terça-feira, 16 de junho de 2020

Momento poético: O Trovador

Por Silvério Sirotheau Corrêa

Alta noite, – e que noite escura e fria! –
Ouvi cantar humilde trovador,
Que relembrava todo a imensa dor
Que o peito enfraquecido lhe invadia.

Também venho cantar, neste meu verso,
A tristeza que vai dentro em minh’alma:
A tristeza, esse mar que não se acalma,
Esse mar, em que vou já quase imerso.

Oh, meu Deus! E que mágoa infinda a minha!
Quando me pesa ao peito o sofrimento!
Para tamanha dor não acho alento,
Não acho alento à dor que me definha:


E nest’hora, pungindo de aflição,
Buscando o lenitivo numa prece,
Sinto que o lábio, trêmulo, emudece:
Calando a boca, – fala o coração.

Oh, Senhor! Dai-me forças que preciso
Realizar o que os Sonhos me inspiram,
– P’ra gozar o que muitos não gozaram
E fazer deste Inferno – um Paraíso.

Mas, se a Morte, com sua atrocidade,
Me vier buscar da Vida por despeito,
Levarei deste mundo, no meu peito,
– A dor, a grande dor de uma Saudade.

NOTA: Poesia escrita em Santarém no ano de 1924.

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