quarta-feira, 18 de maio de 2016

A visita do governador Justo Chermont à vila de Uruá-Tapera (Oriximiná) em 1890

Em todo o vale do Baixo e Alto Amazonas, raros serão os que não tivessem conhecido o inteligente e virtuoso sacerdote padre Nicolino.
Dedicado apóstolo das boas catequeses, empregou os últimos dias da sua existência em algumas explorações. Sabemos que alguém conserva o roteiro, com minuciosas descrições sobre estes trabalhos, organizado pelo punho mesmo do explorador; mas, talvez por um egoísmo ou excessivo zelo mal entendido, ainda não foi resolvida a sua publicação, que, entretanto, assaz interessaria não só a outros exploradores, como ao próprio governo do Estado.

Um dia, o ativo sacerdote empreendeu uma jornada mais longínqua, do que as feitas por ele até então.
Acompanhado por dois valentes e arrojados caboclos, seus guias constantes em tais cometimentos, internou-se pelas brenhas obidenses, em demanda, se não nos falha a lembrança, nos nascentes de um pequeno rio “Branco”, que corta os mesmos sertões.
O padre tinha ouvido, dos seus próprios guias talvez, as lendas mais encantadoras sobre as riquezas dos lugares procurados. Partiu fascinado, e, com a esperança no coração, entranhou-se, embrenhou-se, porém... não mais voltou. O voraz canibalismo de alguma tribo de índios antropófagos vitimou com certeza aquele corajoso sacerdote, roubando assim a dita (quem sabe?) de possuirmos a descoberta de algum tesouro que maravilhasse o mundo inteiro, e nos proporcionasse ao Estado muitas felicidades.
Fique aqui consignada esta breve e mui rápida notícia, em tosca homenagem à memória do fundador da povoação – Uruá-Tapera –, visitada pelo dr. Governador do Estado, às 6 horas e meia da tarde de 25 de maio (de 1890).
Assentada à margem esquerda e não muito longe da foz do rio Trombetas, tributário do Amazonas, apesar da elevação dos seus terrenos, nem por isso ficou este povoado isento das consequência das grandes cheias, que assoberbaram, este ano, o gigante sistema linfático da Amazônia. As negras águas do Trombetas tinham invadido as casas mais próximas da margem, obrigando o fechamento de algumas delas.
Pouco foi a nossa demora nesse ponto: o tempo suficiente para que o dr. Governador examinasse a Escola única existente, que é do sexo feminino, onde se acham matriculadas 15 alunas.


NOTA: Publicada no Jornal A Republica, Nº 90, de 1890. Padre Nicolino não morreu, como diz o texto acima, vítima de canibalismo, na verdade adoeceu e faleceu quando fazia a sua terceira viagem ao rio Cuminá. A obra a que se refere o texto foi publicada setenta anos atrás, em 1946, denominada Diário das Três Viagens (1877, 1878, 1882) do Revmo. Padre Nicolino José Rodrigues de Souza ao Rio Cuminá, cujo manuscrito original foi entregue ao General Cândido Rondon. Obra essa que carece, com as devidas correções e notas, de uma nova edição.

Um comentário:

  1. esse documento foi levado do municipio e se encontra na biblioteca particular desse cidadão a certidão de nascimento de oriximiná

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