quinta-feira, 28 de abril de 2016

A revolta dos pescadores de Santarém – 1913

O senhor Governador do Estado recebeu anteontem, já tarde, telegrama do senhor dr. Oscar Barreto, advogado em Santarém, comunicando que, devido a rivalidade entre pescadores nacionais e portugueses, aqueles, acompanhados de grande massa popular, percorreram as ruas protestando contra a prática de pescaria de arrastão, de que usam os pescadores portugueses.

Com a intervenção das autoridades, do dr. Oscar Barreto e de pessoas gradas, tudo se teria pacificado, conforme as notícias recebidas, restabelecendo-se a ordem, nenhum ferimento havendo a registrar.
Tomando conhecimento dessa e doutras notícias publicadas, ontem pela manhã o sr. Governador pediu urgentes informações, determinando providências, no sentido de seguirem forças prontamente para Santarém.
À tarde, foi sua excelência procurado por diversas pessoas que lhe comunicaram o teor de um telegrama da firma V. Bastos & Cia., das 10,55 horas da manhã, pedindo providências, e em que se dizia encontrar-se o povo revoltado pelos motivos que foram expostos ao cônsul português.
O sr. dr. Enéas Martins respondeu-lhes que aguardava notícias detalhadas, que pedira, já tendo, em todo caso, mandado preparar forças que, sob o comando de um oficial, deveria seguir hoje mesmo para ali.
Telegramas de Santarém, recebidos à noite, informavam o senhor Governador que, apesar da ordem ter ficado restabelecida na véspera, espalhava-se o boato de um novo levante com o mesmo pretexto.
Entretanto, atendendo ao pedido de auxílio de alguns membros da colônia portuguesa ali residentes, e bem assim dos pescadores daquela nacionalidade, os quais, de acordo com um prudente alvitre sugerido, desejavam retirar-se para evitar qualquer conflito; o prefeito de Santarém, acompanhado de pessoas gradas, garantiu o embarque dos pescadores lusos, impedindo também uma passeata que se projetava levar a efeito.
Antes, por ocasião do sucessos, ao passarem manifestantes em frente a casa “Castello”, conduzindo o pavilhão nacional, houve alguns disparos de tiros, devido ao hasteamento da bandeira portuguesa, que nesta ocasião se fazia.
O comércio da localidade fechou suas portas, por algum tempo, abrindo-as pouco depois, por intervenção do dr. Oscar Barreto.
O dr. Carlos Estevão, 2º prefeito da capital, segue hoje para Santarém a bordo do “Comandante Macedo” a fim de abrir inquérito e promover o que for preciso para o completo restabelecimento da ordem.
Até às 3 horas da tarde de ontem não constavam novas perturbações”.


NOTA: Publicado no Jornal do Estado do Pará de 10 de novembro de 1913.

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