quarta-feira, 13 de abril de 2016

Sobre a Estrada de Ferro Santarém e Cuiabá – 1916

Vale a pena conhecer aqui o que disse à imprensa carioca o ilustre engenheiro dr. José Agostinho dos Reis, sobre a estrada de ferro de Santarém a Cuiabá e cujo contrato foi recentemente assinado no Ministério da Viação:


A estrada de Santarém a Cuiabá é, incontestavelmente, uma das linhas de maior importância da América do Sul.
A comissão incumbida de estudar o plano geral de viação do Brasil, perante a qual advoguei a adoção desta linha, aceitou-a imediatamente, o seu parecer na petição apresentada à Câmara dos Deputados, desde 1895, foi brilhantíssimo, demonstrando as vantagens extraordinárias de tal estrada, a facilidade da sua construção pela direção indicada, – o planalto entre os rios Xingu e Tapajós, – e a riqueza da zona, que permitirá desde logo excelentes condições de tráfego.
Penso nesta estrada e tendo-a estudado desde o tempo da monarquia, e neste regime, há 25 anos que luto para consegui-la.
Todos os engenheiros que a estudam, não podem ter outra opinião senão esta – que tal estrada é daquelas que devem ser consideradas “imprescindíveis” para o progresso do Brasil.
No projeto aprovado pela Câmara dos Deputados para o Plano Geral da Viação do Brasil, esta estrada está considerada, depois da “Central”, como a “segunda grande linha de penetração”, e por isso vem no projeto como linha número 2.
Além de por em comunicação as bacias do Amazonas e do Prata, a estrada vai servir a uma zona atravessada por inúmeros rios navegáveis, de modo que, tanto por estes rios, como pelos ramais e estradas de rodagem para automóveis, ou por simples caminho, virão às suas estações, todos os produtos de uma vasta zona de muito mais de 1.000.000 (um milhão) de quilômetros quadrados, compreendendo também uma larga faixa de território de sudeste da Bolívia.
O contrato que assinei no Ministério da Viação, com data de 07 do corrente (janeiro de 1916), e que dentro de poucos dias será registrado no Tribunal de Contas, vai servir de base aos contratos que serão assinados com os governos de Mato Grosso e Pará, segundo leis estaduais votadas para este fim.
É impossível, numa conversa de poucos minutos, dar-lhe mais amplas informações; posso, porém, afirma-lhe que trabalho por este melhoramento com a máxima dedicação e patriotismo e tenho esperanças de ver em breve iniciada a sua realização.
A estrada, segundo os melhores cálculos, deverá ter o desenvolvimento provável de 2.000 (dois mil) quilômetros, que serão percorridos por meio da tração elétrica, para a qual há, na zona, muitas forças da nossa “hulha branca”. E, como a linha, segundo as melhores e positivas informações dos que tem percorrido a região, é de fácil construção, podendo ser feita sem obras de arte notáveis, com rampas muito pequenas, curvas de grandes raios, quer isto dizer que o tráfego vai ser feito em excelentes condições tanto de rapidez, como de barateza.
As zonas tributáveis desta estrada podem conter uma população de perto de 20.000.000 (vinte milhões) de habitantes”.


NOTA: Publicado no jornal O Estado do Pará de 13 de janeiro de 1916.

Nenhum comentário:

Postar um comentário