domingo, 17 de abril de 2016

Artigo: Frei Ambrósio, um espírito exemplar

Por Ezeriel Mônico de Mattos

“A ciência enche e doira a vida,
a virtude alegra a morte
e lá se vai continuar onde nada finda.”
(Pe. Antônio Vieira)

No recanto humilde do meu lar, não raras vezes quando me resta um pouco de alento dessa labuta cotidiana “na busca do pão” como já bem frisou o notável linguista e filosofo de renome, Pe. Antônio Vieira, constitui quase o meu contínuo passatempo folhear as páginas da História e contemplar, serenamente, essas personagens valorosas que também inerte desaparecendo da vida temporal, mas cujo nome vive ali gravado numa coroa de glória, onde o decorrer dos anos nada abalam, nada influem, nada destroem.

Este meu modo de agir, embora muitas vezes pareça monótono, insípido, incoerente, talvez, com o convívio social moderno, onde a onda buliciosa, é a base fundamental dessas normas sociais, a mim me parece tão doce porque sobretudo me tem sido a alavanca poderosa que me encoraja a destruir os abrolhos que se nos antepõem a cada passo.
Viciado a esse princípio, procurei sempre, quando a minha compreensão chega a alcançar, “separar a boa semente do joio”. E, dentre as amizades atentar os ouvidos aos conselhos de: “Não é fácil conhecer quais são os aduladores, quais os amigos deverás, todavia se conhecem um dos outros nas adversidades”. Foi assim que, convivendo com Frei Ambrósio no mais íntimo, pude medir as suas nobres qualidades, destacando nele todos esses predicados que ao meu ver constroem os homens dignos.
Frei Ambrósio é um repertório, é uma fonte inesgotável de Bondade, de Amor e Caridade. E, na prática desta última virtude, ele se elevava tanto que a cada hora a gente tinha a impressão de ler no seu íntimo aquelas palavras do apóstolo são Paulo: “Ainda que fale a língua dos homens e dos anjos, se não tiver caridade serei como o metal que soa e como o címbalo que tine”. Só assim se explica a dedicação com que essa alma sutil, zelava, paternalmente, por esse punhado de criancinhas pobres aos quais fornecia não só o pão espiritual como o pão corporal, trocando-lhes as vestes maltrapilhas, por um vestuário novo, comprado com parte dos seus proventos, e de que modo fazia essa dádiva, para desaparecer o cunho da esmola, dava como um brinde pela aplicação aos estudos.
E, hoje, essas criancinhas que receberam tanto bem daquelas mãos benfazejas, e cuja gratidão não poderão expor já beijando-lhes as faces no seu derradeiro adeus, já levando-lhe o corpo inanimado à sepultura, vão em conjunto à Igreja e lá, de joelhos ao solo, olhos lacrimosos, de mãos postas fazem uma súplica ardente à Virgem Imaculada para que interceda sempre pelo seu benfeitor, colocando-o entre os que gozam da Glória Celeste. Entre essa súplica atendida porque sincera, juntamos as nossas, e envolvido no pesar que circula nas fibras dos corações dos seus paroquianos, dos seus irmãos de Ordem, e do Clero todo, para quem ele foi um pastor abnegado, um irmão afetuoso, um sacerdote fiel, apresentamos as nossas condolências a todos e a cada um de por si.
Si in vita semper probi fuerimus, etiam post mortem beati erimus”.


NOTA: Publicado no jornal O Mariano de 30 de abril de 1936.

Nenhum comentário:

Postar um comentário