“As
orelhas e o lábio inferior são furados para colocarem pequenos pedaços de
madeira. Contudo não usam tecidos de pano para se cobrirem. As mulheres usam
grandes colares de dentes, extraídos de outros selvagens, que foram mortos em
batalha, misturados com dentes de macaco.
Os
homens, armados de arcos e flechas, clavas e lanças, feitos de madeira
preciosíssimas, trazem um cinto pelo qual se podem distinguir os chefes do
resto do povo, porque o dos chefes são fabricados com penas de variadas cores
de pássaros americanos, o dos demais é um cinto tecido de um simples cipó” (...).
“No
princípio da noite os Mundurucus se reuniram na mais espaçosa cabana e ali com
grande estrépito começaram o baile de máscara. Até tarde se toca, se canta, se
dança, se embriaga com Tarubá (uma bebida espirituosa que os selvagens fabricam
com farinha de mandioca posta para fermentar)” (...).
“Falam
de seus antepassados com muita ternura e amor: recordam as suas ações gloriosas
e seus feitos heroicos que propõe como exemplo a seus filhos. Têm muito apego à
sua nação, gloriando-se de pertencer-lhe e de ser Mundurucus. Todos os
indivíduos que fazem parte da nação, são considerados parentes; e com este nome
de parente, tratam-se uns aos outros ainda que não se conheçam” (...).
“As
mocinhas têm um desenvolvimento precoce e não é raro depois dos doze que se
tornem mães. Em seu casamento é o homem que passa para a casa da mulher e não
há nenhuma festa ou cerimônia” (...).
“Nos
lugares próximos ao rio, eles se exercitam desde pequenos na natação e outros
jogos aquáticos. Devido a isso tornam-se exímios nadadores e vivem na água como
peixes. Nesses exercícios são adestrados os meninos” (...).
“Antes
de tudo acende um cigarro feito com um tabaco por ele cultivado. Depois começa
a fumar retendo o fumo na boca para defumar com insuflação a parte ofendida.
Depois de ter consumido dois ou três cigarros, deste modo, o pajé com olhos
turvos, foscos e fixos no alto, está como possesso, e irrompendo com certas
ameaças ininteligíveis, abaixa-se precipitadamente sobre a parte enferma e não
ligando à grande dor que sofre o doente, coloca a boca naquela parte e começa a
morder com força e grande agitação para sugar o malefício e depois de ter
repetido várias vezes essa dolorosa operação, retira-se cuspindo na terra com
ímpeto e indignação um verme negro, curto e grosso (...). Esse verme é por
todos olhado com grande admiração e espanto, e depois de tê-lo bem observado, o
pajé, na presença deles o mata, dizendo que foi tirado o malefício e esta
persuasão opera tão eficazmente sobre o doente, que lhe parece já ter melhorado
bastante (...) e isto serve para tornar mais tenaz a superstição” (...).
NOTA: Os textos se encontram em CASTROVALVAS,
Frei Pelino de. “O rio Tapajós, os Capuchinhos e os índios Mundurucus”. São
Luiz: Lithograf, 2000.
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