“As coisas públicas aqui pela Prainha andam,
como por toda a parte, muito mal.
Vamos começar a trazer ao público os inúmeros
escândalos dos radicais da Prainha e havemos de ser imparciais e justos na
exposição dos fatos, que basta serem conhecidos para, por si mesmos,
qualificarem os que o tem praticado.
Começamos pela Intendência, onde a flor do
radicalismo tem assento.
Ali, o atual secretário, que já foi procurador, e
que também é membro da comissão, tem feito seus arranjositos, que pelas
aparências não são muito honestas.
O vogal José Freitas, que dia não pactuar com
ladroeiras, tem procurado os meios para por a limpo aquelas de que acusam o ex-procurador,
atual secretário.
O Sr. Cesário Figueiredo, que é o Intendente, colocou-se
do lado oposto ao da moralidade e procura todos os meios de evitar que os
negócios se esclareçam, não querendo reunir o conselho, e se o reúne o faz
quase clandestinamente, porque os mais membros lhes são afeiçoados.
O que parece fora de dúvida, é que há
falsificação, emendas e omissão na escrituração da câmara, ali aparecem
lançamentos que não combinam com os conhecimentos entregues aos contribuintes,
assim como não constam algumas importâncias recebidas.
Consta-nos que esses atos já foram levados ao
conhecimento do Governador, por uma representação feita pelo vogal José de
Freitas.
Resta-nos ver agora, se a primeira autoridade do
Estado torna-se solidária com tais espertezas, como fez o Intendente Cesário
Figueiredo, que era tido como independente e honesto.
Continuamos a denunciá-los, e trazer o público ciente
das medidas que o moralizado Governo deste Estado houver de por em pratica,
para limpar a testada de seus amigos ou punir os criminosos, caso o sejam.
Diz-se que o motivo da oposição feita aqui, atualmente,
à entrada do Sr. José Freitas para o conselho escolar, foi o temor dos
professores, marido e mulher, que acostumados a não cumprirem os seus deveres,
viam nesse cidadão um obstáculo à inércia, desleixo e incúria do costume.
Esses boatos, que não parecem de todo infundados,
dá uma ideia do que são as escolas nesta inditosa localidade.
Qualquer dos preceptores se acham desde alguns anos
a exercer as funções do magistério nesta Villa, e ainda não constou que tivesse
saído de suas Escolas um só aluno que seja capaz de ler uma carta e responder
outra.
E nem pode deixar de ser assim: a professora é uma
senhora doente e o marido seu enfermeiro.
A população queixa-se com justa razão do desprezo
em que jaz o ensino, e nós denunciando tal estado de coisas, pretendemos tirar
uma prova do interesse que liga a Direção da Instrução Pública ao
desenvolvimento da mesma instrução.
Duvidamos que sejam tomadas quaisquer medidas para
melhorar esse estado de coisas, pois o professor é político frenético e cabeça
dirigente do seu partido.
Temos certeza que o seu compadre e íntimo amigo
Cesário Figueiredo, Intendente e os membros escolhidos para compor o conselho
escolar, pessoas quase inteiramente analfabetas, não o irão denunciar, nem
mesmo que disto tivessem vontade, pois, não saberiam fazê-lo.
Passemos a outro assunto, não menos digno de
consideração.
Dois são os delegados de polícia, sempre em
exercício, muito embora só haja um destes lugares criados; mas o delegado efetivo
Manoel J. de Sousa Torres, quer o cargo para inspirar terror e medo à população
e nunca deixa o exercício, muito embora mande o primeiro suplente Antônio Maria
de Sousa estar em exercício também.
Não sabemos de isto é legal, nem permitido, a
verdade, porém, é que o fato se dá e quase não há dia que um e outro não
ordenem prisões.
Não há destacamento que sirva; os delegados brigam
com todos, ainda agora o que aqui existe está reduzido ao cabo, porque
conservam em prisão, ha mais de quinze dias um soldado, dizem que a ordem do
comandante do corpo, mas não o remetem para essa capital.
Já que falamos nestas autoridades, vem apelo dizer
que o sr. Sousa Torres, é mesmo um delegado “onça"; não satisfeito em
poder mandar prender à vontade, deu-lhe na veneta de dar também pancadas, e uma
bela manhã dirigiu-se à casa do negociante Arão Hoziel e ali esbofeteou-o
coadjuvado por um capanga!
Pretendeu depois de um tal heroísmo, mandar preso
aquele cidadão, o que não fez, julgamos, que por certo receio da indignação popular.
Constou-nos que o ofendido levou ao conhecimento
do governador este fato e espera que pelo mesmo não continue a exercer um cargo
de autoridade semelhante malfeitor.
A Moralidade”.
NOTA:
Publicado no jornal O Democrata, de 28 de fevereiro de 1891.
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