“Oriximiná é uma vila paraense que
impressiona agradavelmente ao viajante, logo que a descortina, devido as
lanchas e os batelões que ali se constroem e o grande número de embarcações que
lhe frequentam o porto, máxime na época da safra da castanha, que foi quando a
vi pela primeira vez. Tudo ali respira trabalho: e o trabalho enobrece o homem.
A vila é grande e muito povoada, e fica assente à margem esquerda do rio
Trombetas, com uma baia esplendida onde podem ancorar navios de grande calado.
Muito próximo ao porto existe uma serraria a
vapor, que de vez em quando, quebra com o silvo da máquina a monotonia da
solidão daquelas paragens: é o grito do progresso, o brado da civilização,
chamando os homens ao trabalho. Não é somente no Trombetas, onde se encontram
os riquíssimos castanhais desta terra paraense, os há também em toda a extensão
de terras banhadas pelo Curimã e Arapicú, sendo que no rio Sapucuhá a indústria
pastoril se acha em estado próspero, bordando-lhes, ao mesmo tempo, as margens,
ricos seringais, itaubais enormes; ao passo que a cultura da mandioca e do
milho estende-se por toda a parte.
O clima é muito saudável. Administrativamente, faz
parte integrante do município de Óbidos.
Traduz o seu nome as suas riquezas: porque
Oriximiná quer dizer mina de ouro. E é certo que nas cabeceiras do Trombetas existe
o vil metal, com que, afinal, não se preocupam os oriximinenses, que arroteiam
os campos, esponjam as matas de suas imarcescíveis riquezas, exportando as
madeiras preciosas que ali se encontram, empregando-as em construções navais
que por toda a Amazônia fazem a grandeza de tão grande, tão laborioso povo, ao
passo que se abarrotam as praças europeias com as suas deliciosas castanhas,
vindas da vastidão intérmina, quase infinita de suas matas.
Em um futuro não muito afastado de nós, eu creio,
Oriximiná será uma das melhores, das mais importantes cidades paraenses, porque
a trabalho ali não somente é uma condenação imposta ao homem para ganhar o pão
com o suor de seu rosto, é uma virtude cívica. Antes do nosso pai Adão ser
condenado par alimentar seu corpo, outrora impassível, trabalhava, rendendo
pleito e homenagem ao Senhor, que o fizera a sua imagem e semelhança!
Salve Oriximiná!
Faro, 1913.
Manoel Buarque”.
NOTA:
Publicado no jornal do Estado do Pará, de 03 de maio de 1913.
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