segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

Carta Circular aos Padres sobre a Obra da Educação - 1866

A carta abaixo, escrita por Dom Antônio de Macedo Costa e dirigida a diversos padres nos revela a preocupação do Bispo com a educação nas duas Províncias a ele confiadas (Amazonas e Grão-Pará). O apelo do Bispo teve como motivo a suspensão da verba destinada a educação na Diocese do Pará, que era, por ele vista, como a mais importante obra, gloriosa para Deus e útil para o país. A carta também nos dá as indicações dos párocos e vigários das freguesias naquele ano.


Paço Episcopal de Belém do Pará, 16 de abril de 1866.
Rvd. Sr. Vigário e amigo.

Não posso calar o muito que sou grato a V. Revma. pelo interesse que tem tomado na obra da educação dos meninos pobres. Tanto a peito m’está esta obra; vejo nela, se se desenvolvesse, tamanho elemento de sólido progresso para as duas províncias confiadas aos meus cuidados pastorais, que todo auxílio a ela prestado, me toca profundamente o coração e penhora o meu reconhecimento. Verdade é que não pôde V. Revma. fazer quanto desejava; pequeno foi o óbolo que pôde colher para os meus pobres meninos; mas Deus não medirá sua recompensas pelo avultado das esmolas, senão pela boa vontade com que forem oferecidas. Apesar disso, e de ter só uma parte dos Revmos. Párocos até o presente respondido ao meu appelo, já pude, graças a Deus, preencher o déficit, que por ocasião da inesperada supressão dos 3:000$000 anuais que me dava a Província, teve de abrir-se na maior parte dos Seminários em que se acham os alunos paraenses. Já não estão eles, pois, vivendo a custa da caridade em terra estranha! Bem haja V. Revma., bem hajam as pessoas benfazejas que me tem ajudado nesta pia e utilíssima obra da educação!
Quizera desenvolvê-la, dilata-la, aumentá-la para maior vantagem deste povo de quem sou Pastor; quisera levantar um, alguns, muitos asilos, se fosse possível, para neles educar gratuitamente os filhos da pobreza, que em geral definham ai baldos de toda educação tanto intelectual, como moral! Que obra mais importante em si mesma, mais gloriosa para Deus e mais útil ao nosso país? Para quem reflete seriamente sobre os grandes problemas que tocam à vida mesma da sociedade, é coisa clara que a primeira e mais urgente necessidade de um povo é a educação. Só promovendo-se uma boa e solida educação popular se preparará futuro verdadeiramente grandioso para nossa querida pátria. Bom é em verdade que se promovam melhoramentos materiais; que os vapores, sulquem nossos imensos rios; que uma rede de ferrovias aproxime entre si os pontos mais remotos do Império; que o pensamento voe sobre as asas da eletricidade, mas tudo isto de nada nos servirá, se a corrupção lavrar até o âmago da sociedade, falseando todas as relações que a compõem; tudo isto de nada nos servirá se os caracteres se amolecerem na atmosfera morna do indiferentismo; se os instintos generosos e delicados, se o desinteresse, a dedicação a todas as nobres virtudes que fazem a grandeza de um povo se atrofiarem no egoísmo, no sensualismo brutal, em todo esse cortejo ignóbil de degradações que acarreta consigo a corrupção dos costumes; em uma palavra nada disto nos servirá sem homens, e homens prepara-os, forma-os a educação e educação religiosa. Eis porque tenho para mim ser esta a principal obra em que devemos todos trabalhar, a cruzada da generosa em que cada um tem de alistar-se. Eu sou dos que ainda crêem no futuro pela educação, e hei de levar, se Deus quiser, a minha pedra para o grande edifício.
Se for accompanhado, o edifício se levantará depressa, se não for, a minha pedra lá ficará, na cava do alicerce, como testemunha de minha boa vontade, chamando por outras que por ventura, que certamente se lhe associarão no provir. Encontrarei dificuldades, mas elas não me desalentam. Eu sei que é só a passo lento e medido, no meio de perigos e contradiçções de todo o gênero, com os pés ensanguentados d’espinhos, opondo a força do coração e a consciência do dever a ataques encarniçados, que as boas obras avançam no meio do mundo. Conto, Sr. Vigário, abaixo de Deus, com a generosa cooperação de V. Revma., com a de todo o novo. Preciso dela. Não é com cerca de 4:000$000 réis que rende anualmente a caixa Pia, e com os mesquinhos 300$000 réis mensais de minha côngrua que poderei empreender e levar ao cabo obras deste toque. Ajude-me V. Revma., a fazer alguma coisa. Me resignarei facilmente a tudo, menos a ser um Bispo inteiramente inútil.
Sr. Vigário, folgo de reiterar a V. Revma. a expressão de meu profundo reconhecimento pelos esforços que tem feito e pelos, ainda mais eficazes, que continuará a fazer em prol da obra da educação dos meus meninos pobres.
Deos Guarde a V. Revma.
XAntonio, Bispo do Pará.
Ao Revmo. Sr. Vigário de Sant’Anna, Sebastião Borges de Castilho.
Do mesmo teor aos Revmos. Sacerdotes:
Miguel Correia Pacheco, vigário da Freguesia de Itú, no Bispado de São Paulo.
Cura da Sé do Pará, Luiz Martinho de Azevedo Couto.
Manoel Joaquim da Silva Espindola, Vigário da Trindade.
Feliciano José Pereira, Vigário de Mocajuba.
Antônio Ferreira da Silva Franco, Vigário encomendado da Cametá.
Severino Euzebio de Mattos Cardoso, Vigário de S. Miguel.
Bernardino Dutra da Vera Cruz, Coadjutor de Irituia.
Marcello Alves de Menezes, Vigário interino de Ourem.
Luiz Gonçalves d’Aragão, Vigário da Vigia.
José Joaquim da Silva Martins, Vigário de S. Caetano.
José Maria do Valle, Vigário de Curuça.
Francisco da Silva Delgado Leão, Vigário da Cachoeira, em Marajó.
Manoel dos Navegantes Barros Neves, Vigário de Ponta de Pedras.
Joaquim Manoel de Jesus, Vigário de Macapá.
José Pedro Baptista Ferreira, Vigário interino da Prainha.
José Raymundo Bittencort, Vigário de Breves
José dos Santos Siqueira Souto, Vigário de Melgaço.
Militão Manso Manito, Vigário de Barcarena.
Alexandre de Lira Lobato, Vigário de Igarapé-Miry.
Manoel Rodrigues Valente Doce, Vigário de Cairary.
Cônego Antonio Feliciano de Souza, Vigário interino da Santarém.
Fr. João de Santa Cruz, Vigário interino de Porto de Moz.
Antônio do Espírito Santo Fonseca, Vigário de Villa Franca.
Manoel José da Cunha, Vigário de Óbidos.
Clementino José Rodriges de Souza, Vigário interino de Aveiros.
Theodoro Canovas Nogueira, Vigário de Souzel.
João Braz Roberto Nogueira, Vigário de Juruty.
Augusto João Maria Culler, coadjuctor de Manaus.
Bernardo Ivo de Nazareth Ferreira, Vigário Interino de Fonte Boa.

José Maria Fernandes, Vigário de Quary (sic)”.

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