“Em Santarém, depois de haverem preso e
espancado brutalmente à um mísero retirante cearense, recorreram ao imoral meio
de prisão incomunicável, a fim de ocultar-se o estado mortal deste infeliz!
O procedimento
das autoridades de Santarém é de tal ordem que o juízo municipal, dirigindo-se
em ofício à chefia de polícia, diz:
“Juízo
Municipal da cidade de Santarém, 05 de novembro de 1879.
Ilmo.
E Exmo. Sr.
Na
convicção de que V. Exa. inspirado pelo zelo do serviço público, dê providências
que ponham cobro aos desmandos e violências que em nome da justiça estão sendo
cometidas nesta cidade, levo ao conhecimento de vossa excelência os fatos
gravíssimos que aqui se estão passando e que reclamam prontas e eficazes medidas
para o restabelecimento da ordem e tranquilidade pública”.
Segue-se o
histórico dos mais assombrosos fatos de espancamentos, ferimentos graves,
ameaças, chegando-se até a varejar casas às altas horas da noite, e figurando
em todas estas cenas o delegado de polícia, Antônio José Rebello, e o bem
conhecido turbulento João Antônio Luiz Coelho.
Eis os nomes dos
soldados que espancaram o infeliz retirante cearense, posto em prisão
incomunicável para ocultar-se o seu estado mortal!
Soldados de
polícia Antonio Correia Picanço, Francisco Gomes Machado, Jacintho Nogueira
Leite, Francisco das Chagas Saraiva, José Lúcio Ferreira, Ignacio Mendes da
Rocha, Guilherme Antônio Ribeiro e Sebastião Evaristo Ramos.
Magnifica
polícia, dirá o desalmado governo, e melhor delegado, diremos nós!
Este mesmo
delegado já figurou em um processo crime que após a denúncia dada pelo
inteligente promotor público, dr. Candido A. Pereira Lima, reza o seguinte
despacho:
“Cite-se
as testemunhas para virem depor no dia 2 de setembro próximo, na Casa da Câmara
Municipal, às 11 horas do dia, sendo conduzidos os réus para se verem processar,
com pena de desobediência as testemunhas se faltarem, e dando-se ciência ao dr.
Promotor. Manaus, 30 de agosto de 1873. Garcia”.
Semelhante
despacho vem transcrito no Baixo
Amazonas em seu artigo editorial que diz, à propósito:
“O
processo não está concluído, porque os réus fugiram da província do Amazonas,
onde perpetraram o assassinato, para a comarca de Monte Alegre e dali
passaram-se para Itaituba, e só agora é que Antonio José Rebello se ostenta
orgulhoso por ter em premio do assassinato obtido a nomeação de delegado de
polícia de Santarém, iludindo a boa fé das autoridades que o nomearam, porque
não o conheciam”.
De Itaituba havia
chegado à capital um expresso noticiando ter sido ali alterada a ordem pública,
devido tudo aos desvarios do subdelegado de polícia, contra quem já chegaram à
presidência da Província representações documentadas dos cônsules de Portugal e
Espanha, e que infelizmente não foram atendidas!
A população da
vila de Itaituba está toda em alarma, esperando a cada momento atear-se a
revolução!
Os prodomos (sic)
revelaram-se em terrível combate entre retirantes cearenses e praças do corpo
de polícia, guiadas pelo próprio subdelegado de polícia!!
Do encontro de armas
saíram gravemente feridos diversos combatentes de lado a lado!
O subdelegado
designara outro combate e geralmente receiam-se grandes males.
O comércio e a
lavoura da pacífica vila de Itaituba muito hão sofrido!
Refere-se o Baixo Amazonas que o delegado de
Santarém mandara uma praça atirar sobre o infeliz cearense Maximiano, morrendo
esse instantaneamente!!”
NOTA: Publicado originalmente
no jornal “O Conservador” (RJ), Nº 017, de 1880.
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