quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

Perseguições a cearenses em Santarém e Itaituba – 1879


Em Santarém, depois de haverem preso e espancado brutalmente à um mísero retirante cearense, recorreram ao imoral meio de prisão incomunicável, a fim de ocultar-se o estado mortal deste infeliz!
O procedimento das autoridades de Santarém é de tal ordem que o juízo municipal, dirigindo-se em ofício à chefia de polícia, diz:
“Juízo Municipal da cidade de Santarém, 05 de novembro de 1879.
Ilmo. E Exmo. Sr.
Na convicção de que V. Exa. inspirado pelo zelo do serviço público, dê providências que ponham cobro aos desmandos e violências que em nome da justiça estão sendo cometidas nesta cidade, levo ao conhecimento de vossa excelência os fatos gravíssimos que aqui se estão passando e que reclamam prontas e eficazes medidas para o restabelecimento da ordem e tranquilidade pública”.

Segue-se o histórico dos mais assombrosos fatos de espancamentos, ferimentos graves, ameaças, chegando-se até a varejar casas às altas horas da noite, e figurando em todas estas cenas o delegado de polícia, Antônio José Rebello, e o bem conhecido turbulento João Antônio Luiz Coelho.
Eis os nomes dos soldados que espancaram o infeliz retirante cearense, posto em prisão incomunicável para ocultar-se o seu estado mortal!
Soldados de polícia Antonio Correia Picanço, Francisco Gomes Machado, Jacintho Nogueira Leite, Francisco das Chagas Saraiva, José Lúcio Ferreira, Ignacio Mendes da Rocha, Guilherme Antônio Ribeiro e Sebastião Evaristo Ramos.
Magnifica polícia, dirá o desalmado governo, e melhor delegado, diremos nós!
Este mesmo delegado já figurou em um processo crime que após a denúncia dada pelo inteligente promotor público, dr. Candido A. Pereira Lima, reza o seguinte despacho:
“Cite-se as testemunhas para virem depor no dia 2 de setembro próximo, na Casa da Câmara Municipal, às 11 horas do dia, sendo conduzidos os réus para se verem processar, com pena de desobediência as testemunhas se faltarem, e dando-se ciência ao dr. Promotor. Manaus, 30 de agosto de 1873. Garcia”.
Semelhante despacho vem transcrito no Baixo Amazonas em seu artigo editorial que diz, à propósito:
“O processo não está concluído, porque os réus fugiram da província do Amazonas, onde perpetraram o assassinato, para a comarca de Monte Alegre e dali passaram-se para Itaituba, e só agora é que Antonio José Rebello se ostenta orgulhoso por ter em premio do assassinato obtido a nomeação de delegado de polícia de Santarém, iludindo a boa fé das autoridades que o nomearam, porque não o conheciam”.
De Itaituba havia chegado à capital um expresso noticiando ter sido ali alterada a ordem pública, devido tudo aos desvarios do subdelegado de polícia, contra quem já chegaram à presidência da Província representações documentadas dos cônsules de Portugal e Espanha, e que infelizmente não foram atendidas!
A população da vila de Itaituba está toda em alarma, esperando a cada momento atear-se a revolução!
Os prodomos (sic) revelaram-se em terrível combate entre retirantes cearenses e praças do corpo de polícia, guiadas pelo próprio subdelegado de polícia!!
Do encontro de armas saíram gravemente feridos diversos combatentes de lado a lado!
O subdelegado designara outro combate e geralmente receiam-se grandes males.
O comércio e a lavoura da pacífica vila de Itaituba muito hão sofrido!
Refere-se o Baixo Amazonas que o delegado de Santarém mandara uma praça atirar sobre o infeliz cearense Maximiano, morrendo esse instantaneamente!!


NOTA: Publicado originalmente no jornal “O Conservador” (RJ), Nº 017, de 1880.

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