quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

Fome no Lago Grande de Curuai – 1936

Abaixo transcrevemos um enxerto do artigo de Peregrino Júnior intitulado de “BLOCK-NOTES: AS MENTIRAS DO NOSSO LIRISMO CÍVICO”, publicada na Revista “O Careta”, Nº 1.448, de 1936, falando de uma moléstia que grassava o Lago Grande de Curuai, no município de Santarém, que era “causa” de muitas outras doenças: a fome! Eis o texto:


Segundo declarou o sr. Austregésilo de Ataíde, o professor Escudeiro, o grande dietologo argentino, tendo estudado o problema da alimentação nesta Capital, chegou à conclusão de que “a quase totalidade dos habitantes da metrópole brasileira vive sub-alimentada”, e isto explicaria as “devastações” da tuberculose e a tremenda mortalidade infantil.
É fato que ninguém pode contestar, porque as observações do especialista ilustre de Buenos Aires coincidem exatamente com as verificações dos investigadores brasileiros: “o Rio é uma cidade que curte a pior e a mais insidiosa das formas da fome, que é a sub-alimentação”. Em conclusão: No Brasil bem que se morre de fome. Gilberto Freyre e José Luís do Rego tem razão: não da mesma forma terrivelmente dramática que no Oriente. Mas à surdina, pela sub-alimentação prolongada que quase não dá na vista.
Esse caso do Lago Grande, no Pará, é impressionante, na sua dramática realidade. Os médicos da Saúde Pública paraense que foram à Santarém investigar as causas da epidemia que devastava a população de Lago Grande, chegaram a esta comovente conclusão: a doença – o mal desconhecido e terrível – que estava dizimando assustadoramente a boa gente daquela região amazônica, era principalmente – a fome! Quer dizer, no Paraíso Verde, naquela famigerada terra feracíssima, onde não se precisava nem trabalhar para comer, estavam morrendo de fome dezenas de pessoas! Os organismos desnutridos, com as defesas comprometidas pela miséria e a sub-alimentação, eram campo propício à devastação das mais vulgares endemias rurais. O impaludismo e a ancilostomose apenas estavam acabando de matar aqueles pobres espetros famintos e miseráveis, que arrastavam a sua indigência física nas terras empantanadas do Lago Grande”.


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