Abaixo transcrevemos um enxerto
do artigo de Peregrino Júnior intitulado de “BLOCK-NOTES: AS MENTIRAS DO NOSSO
LIRISMO CÍVICO”, publicada na Revista “O Careta”, Nº 1.448, de 1936, falando de uma moléstia que
grassava o Lago Grande de Curuai, no município de Santarém, que era “causa” de
muitas outras doenças: a fome! Eis o texto:
“Segundo declarou o sr. Austregésilo de Ataíde, o professor Escudeiro, o
grande dietologo argentino, tendo estudado o problema da alimentação nesta Capital,
chegou à conclusão de que “a quase totalidade dos habitantes da metrópole brasileira
vive sub-alimentada”, e isto explicaria as “devastações” da tuberculose e a
tremenda mortalidade infantil.
É
fato que ninguém pode contestar, porque as observações do especialista ilustre
de Buenos Aires coincidem exatamente com as verificações dos investigadores
brasileiros: “o Rio é uma cidade que curte a pior e a mais insidiosa das formas
da fome, que é a sub-alimentação”. Em conclusão: No Brasil bem que se morre de
fome. Gilberto Freyre e José Luís do Rego tem razão: não da mesma forma terrivelmente
dramática que no Oriente. Mas à surdina, pela sub-alimentação prolongada que
quase não dá na vista.
Esse
caso do Lago Grande, no Pará, é impressionante, na sua dramática realidade. Os
médicos da Saúde Pública paraense que foram à Santarém investigar as causas da
epidemia que devastava a população de Lago Grande, chegaram a esta comovente
conclusão: a doença – o mal desconhecido e terrível – que estava dizimando
assustadoramente a boa gente daquela região amazônica, era principalmente – a fome!
Quer dizer, no Paraíso Verde, naquela famigerada terra feracíssima, onde não se
precisava nem trabalhar para comer, estavam morrendo de fome dezenas de
pessoas! Os organismos desnutridos, com as defesas comprometidas pela miséria e
a sub-alimentação, eram campo propício à devastação das mais vulgares endemias
rurais. O impaludismo e a ancilostomose apenas estavam acabando de matar
aqueles pobres espetros famintos e miseráveis, que arrastavam a sua indigência
física nas terras empantanadas do Lago Grande”.
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