Monsenhor
José Gregório Coelho foi pároco de Santarém e Vigário Geral do Baixo Amazonas
na segunda metade do século XIX. Voltando a Belém, foi nomeado Vigário Geral da
Diocese, função que exercia quando de seu falecimento. Abaixo transcrevemos a notícia
de seu falecimento (ocorrido a 5 de fevereiro de 1897) e enterro, conforme
publicado no jornal Folha do Norte, dos dias 6 e 7 de fevereiro de 1897. Os
textos apresentam detalhes sobre a vida deste sacerdote que teve forte
influência na história de Santarém e região, sendo ele grande incentivador no
desmembramento da então Província do Pará para formar uma nova Província com
capital em Santarém.
“Após
prolongados sofrimentos, faleceu homem às 7 horas da manhã nesta capital
monsenhor arcedíago José Gregório Coelho, Vigário Geral da Diocese e que por
longos anos foi pároco de Santarém, onde deixou profusa cópia de simpatias.
O extinto clérigo, que incontestavelmente era uma das mais ilustres e
respeitáveis figuras da igreja paraense, ordenara-se em Paris em 1865, tendo
feito o respectivo curso no afamado Colégio de S. Suplicio.
Orador fluente e imaginoso, caráter lhano e animo em extremo comunicativo,
o padre Gregório Coelho, logo que regressou a esta capital, tal estima
conquistou em todas as classes sociais, que chegou como que a ficar em segundo
plano o vulto de d. Antônio de Macedo Costa, bispo d'esta Diocese, e que então
achava-se no apogeu da sua fama como pregador e valente polemista.
Há ainda quem afirme que essa estima que entrou ardentemente a festejar
o jovem sacerdote foi a causa direta da sua nomeação para a paróquia de Santarém,
onde, devido ao acanhamento do meio intelectual, à falta de estimulo e de
proveitoso convívio espiritual, foi pouco a. pouco decaindo ensombrando-se o
belo talento do padre Coelho, que, por sua vez, limitou-se a tratar
exclusivamente das coisas da sua vigararia, no que, diga-se a bem da verdade,
foi de um zelo inexcedível. O elegante altar de mármore, que se admira na igreja
de Santarém devem os fieis daquele local à sua incansável iniciativa.
Foi monsenhor Coelho um dos sacerdotes mais queridos e quiçá o mais
ilustrado do clero deste Estado, sendo que uma das qualidades mais apreciáveis
da sua alma eram extremo e incomparável amor que ele consagrava a sua mãe, que
aí fica pobre e desolada nos seus noventa anos de idade, eternamente chorando a
perda do filho único, que lhe fora o mais justo orgulho da sua existência.
O saimento de monsenhor Coelho terá lugar hoje às 7 horas da manhã, da igreja
de Nazaré, após a missa de corpo presente.
O ilustre sr. dr. Turiano Meira, digno juiz de direito de Santarém, teve
a obsequiosidade de, em visita que nos fez, participar-nos que em nome do povo
santareno depositaria no féretro do morto, muito estimado naquela cidade, uma
coroa funerária, à vista de haver recebido do sr. intendente municipal do
referido município, coronel Ignácio Corrêa, o seguinte telegrama:
“DR. TURIANO. - Represente população Santarém enterro arcediago. Ofereça
coroa nome população”.
Sobre o ataúde de monsenhor Gregório Coelho será hoje depositada uma
bela grinalda, como saudosa homenagem dos seus antigos discípulos: drs. Barroso
Rebello, Adelino e Dioclécio Corrêa, Geraldo Paes de Andrade, Fulgêncio Simões,
tenente A. Miranda, capitão Raymundo Miranda, tenente coronel José Joaquim de
Moraes Sarmento, João de Deus do Rego e ]oaquim José Corrêa.
Urna coincidência: Monsenhor Coelho faleceu no dia em que completou 56 anos,
pois nasceu nesta capital aos 5 de Fevereiro de 1841.
As exéquias do finado são feitas à expensas do Estado, segundo indicação
ontem mesmo aprovada unanimemente nas duas casas do Congresso.
Nessa conformidade, foram distribuídos convites assignados pelo sr. dr.
Paes de Carvalho, governador do Estado, a todas as repartições sob sua
jurisdição”.
(...)
“Imponente e
concorrido foi o saimento de monsenhor arcediago dr. José Gregório Coelho, que
verificou-se ontem de manhã, após a missa de corpo presente celebrada na igreja
de Nazareth.
Além da grande massa popular, viam-se compondo o préstito o governador
do Estado, desembargadores, juízes de direito, advogados, médicos, chefes das
repartições públicas, deputados e senadores, comerciantes, capitalistas, industriais
e proprietários.
Elevado número de veículos de praça e 20 bondes conduziram a todas as pessoas
que prestando homenagem ao ilustre varão, quiseram acompanha-lo até a derradeira
morada.
Além do cabido que compareceu em peso, via-se ali o bispo da diocese e
muitos sacerdotes, os quais estiveram sempre ao lado do féretro, dentro do
qual, monsenhor Coelho, revestido das insígnias da sua alta dignidade no clero,
sereno e hirto dormia o sono sem termo, epílogo de uma série de acerbos sofreres
que o afligiram durante perto de 15 anos.
Muitas coroas, em cujas fitas liam-se sentidas inscrições, foram
conduzidas por parentes, amigos, ex-discípulos e admiradores do pranteado
sacerdote da igreja católica.
Todas as irmandades desta capital fizeram-se representar na cerimônia por
comissões dos seus membros e bem assim muitas associações particulares.
O governador do Estado tocou em uma das fitas do ataúde ao ser este
conduzido do recinto da igreja para o carro fúnebre.
No cemitério da Soledade, onde grande massa popular aguardava a chegada
dos despojos, tendo feito o trajeto a pé, pronunciou sentidas palavras diante
do cadáver o padre Anzaloni.
Estimado e querido pela sociedade paraense, foram sem conta as
demonstrações de pesar que por tão infausto acontecimento tivemos ocasião de
observar.
Os convites para o enterro de monsenhor Coelho foram feitos
separadamente:
– Pelo sr. dr. Paes de Carvalho, governador do Estado, que convidou o
pessoal das repartições “para assistir os funerais de monsenhor José Gregório
Coelho, arcediago da Diocese deste Estado e acompanhar o saimento do cadáver
desse ilustre sacerdote”;
– Pelo padre Manoel Carlos do Nascimento, coadjutor de Nazaré, que se dirigiu
ao povo em geral e as irmandades em particular; e,
– Pelo Diário de Notícias, como órgão popular, e no sentido de
prestar-se “um culto de veneração e caridade Cristã ao ilustre e respeitável
sacerdote”.
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