quarta-feira, 9 de março de 2016

Sobre os primórdios do Asilo São Vicente de Paulo - 1942


A conferência de São Vicente de Paulo, da paróquia de Nossa Sra. da Conceição, desta nossa abençoada terra, recebeu a visita honrosa de Mons. Anselmo, em sua reunião de 08 de março corrente.
Saudado por um vincentino, o nobre e dedicado apóstolo da fé cristã discorreu proficientemente, a seguir, sobre assuntos religiosos a todos prendendo com a sua palavra fluente de entusiasmo e encorajamento.

Nasceu dessa feliz oportunidade a ideia da criação, entre nós, de um asilo para os pobres. A sugestão proposta por Mons. Anselmo foi aceita prazerosamente e a Conferência de São Vicente tomou a si o encargo de estudar cautelosamente os planos da ingente tarefa, entrando logo em contato com as autoridades locais, tratando do magno problema.
Em linhas gerais, podemos adiantar que o novo estabelecimento de que será dotada nossa cidade compreenderá um múltiplo alcance, como seja: - a) – manutenção dos pobres e assistência técnica; b) – amparo aos filhos dos pobres, mediante proteção devidamente articulada entre a Conferência e o juizado de menores; c) – assistência espiritual; d) – melhoramento ordem social para Santarém e cidades próximas; e) – libertação do comercio e do povo do hábito inconveniente e às vezes abusivo da mendicância; etc...
A Conferência estuda meticulosamente o assunto e em breve iniciará os preparativos para o lançamento da pedra fundamental, o que, segundo se espera, ocorrerá em princípios de 1943.
Pode parecer, à primeira vista, que muita dificuldade aguardará, nas quebradas da estrada, aqueles que veem com demasiada facilidade a realização de um tão importante serviço. Isto, porém, não será senão um óbice a encarar. O orçamento ascenderá, sem dúvida, a algumas dezenas de contos de réis, mas a força propulsora desta grande obra será a proteção de Deus.
Já dizia Ruy Barbosa, que tudo aquilo que se inicia deve ser considerado a meio termo de sua conclusão.
Jornada cheia de espinhos terá que ser perlustrada e muita falta de disposição há de ser encontrada; todavia, a vontade férrea da gente santarena e da alma vincentina será a melhor alavanca desta humanitária e útil instituição, em tão boa hora inspirada por Deus, através de um dos seus mais dignos ministros.
Quem dá ao pobre empresta a Deus, diz o brocardo. E acobertados sob a realidade deste axioma, os idealizadores da obra levarão de vencida uma causa que para os céticos e pessimistas se consubstancia na palavra – impossibilidade.
Tal iniciativa preencherá uma lacuna em nosso meio e assinalará um grau a mais no progresso desta terra hospitaleira.
Homens que vegetam em nossa sociedade hão de emprestar a ideia o menosprezo que lhes dita a consciência egoísta. Eles julgam-se paladinos de todas as obras porque provém de troncos tradicionais, mas ignoram que na opinião dos homens de bem, dos que trabalham pela grandeza de Santarém, eles não passam de simples rebotalhos sociais, porque vivem para si próprios e cuidam dos interesses próprios e, às vezes até sem conforto, esquecidos de que o egoísmo é uma miséria moral condenada por Deus.
O homem não deve ser útil somente a si e aos seus, mas também ao próximo.
“Ainda que eu fale a língua dos homens e dos anjos, se não tiver amor ao meu semelhante, sou como um bronze que soa ou como um sino que tine”. Estas palavras de S. Paulo significam que a sabedoria, o poder e o fausto nenhum valor terão perante Deus, se tais forças olvidam o triste destino dos pobres”.


NOTA: Publicado no O Mariano de 27 de março de 1942.

Nenhum comentário:

Postar um comentário