“Em consequência de uma crise entre o general Braz Abrantes e o
comandante da força policial do Pará, resolveu o sr. Campos Salles, a pedido do
sr. Augusto Montenegro, castigar a guarnição de Belém, composta do 15º, 30º de
infantaria e 4º de artilharia, mandando-a fazer exercícios em Óbidos.
O
capricho e a politicagem do fofo e afeminado Governador do Pará estão acima dos
interesses do Tesouro e dos brios do exército nacional.
Quem
conhece a topografia do Pará sabe que Óbidos é uma pequena cidade, atufada da
mata secular, que floresce nas margens do Amazonas, tendo um forte desmantelado
e um quartel sem acomodações para três batalhões. De sorte que não há ali
espaço para exercícios militares, nem meios para abrigar convenientemente
oficiais e soldados, a menos que o governo – de acordo com o seu programa de
economias – gaste centenas de contos em derrubadas e acampamento, não
computando a forte soma despendida em passagens e outras despesas da
mobilização dos três batalhões.
O
essencial era não melindrar o sr. Montenegro e desmoralizar a guarnição de
Belém e o general Braz Abrantes, que teve a ousadia de não se submeter.
Ganha
com isso imenso prestígio o governador do Pará, como afirmou o deputado Arthur
Lemos, quando se jactou de haver conseguido do sr. Campos Salles muito mais do
que havia pedido.
Os
tais exercícios são mero pretexto.
O
sr. Campos Salles não mede consequências quando se trata de servir aos seus
apaniguados. Para amigos, mãos rotas.
Em
toda essa comédia só há para admirar que o sr. marechal ministro da guerra se
submeta ao papel de instrumento dessa ignóbil politicagem, em vez de defender,
em todos os terrenos, como é seu dever, os brios do exército nacional.
Triste
condição a de um país em que os efebos os peralvilhos políticos tem mais valor,
aos olhos do governo, do que os velhos soldados rudes, de alma forte e honesta,
queimados pelos sóis das guarnições e das campanhas ao serviço da Pátria!”
NOTA: Publicado no jornal
Diário da Tarde, de 16 de novembro de 1901.
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