domingo, 6 de março de 2016

Uma crise no exército e os exercícios em Óbidos – 1901


Em consequência de uma crise entre o general Braz Abrantes e o comandante da força policial do Pará, resolveu o sr. Campos Salles, a pedido do sr. Augusto Montenegro, castigar a guarnição de Belém, composta do 15º, 30º de infantaria e 4º de artilharia, mandando-a fazer exercícios em Óbidos.
O capricho e a politicagem do fofo e afeminado Governador do Pará estão acima dos interesses do Tesouro e dos brios do exército nacional.

Quem conhece a topografia do Pará sabe que Óbidos é uma pequena cidade, atufada da mata secular, que floresce nas margens do Amazonas, tendo um forte desmantelado e um quartel sem acomodações para três batalhões. De sorte que não há ali espaço para exercícios militares, nem meios para abrigar convenientemente oficiais e soldados, a menos que o governo – de acordo com o seu programa de economias – gaste centenas de contos em derrubadas e acampamento, não computando a forte soma despendida em passagens e outras despesas da mobilização dos três batalhões.
O essencial era não melindrar o sr. Montenegro e desmoralizar a guarnição de Belém e o general Braz Abrantes, que teve a ousadia de não se submeter.
Ganha com isso imenso prestígio o governador do Pará, como afirmou o deputado Arthur Lemos, quando se jactou de haver conseguido do sr. Campos Salles muito mais do que havia pedido.
Os tais exercícios são mero pretexto.
O sr. Campos Salles não mede consequências quando se trata de servir aos seus apaniguados. Para amigos, mãos rotas.
Em toda essa comédia só há para admirar que o sr. marechal ministro da guerra se submeta ao papel de instrumento dessa ignóbil politicagem, em vez de defender, em todos os terrenos, como é seu dever, os brios do exército nacional.
Triste condição a de um país em que os efebos os peralvilhos políticos tem mais valor, aos olhos do governo, do que os velhos soldados rudes, de alma forte e honesta, queimados pelos sóis das guarnições e das campanhas ao serviço da Pátria!

NOTA: Publicado no jornal Diário da Tarde, de 16 de novembro de 1901.


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