sexta-feira, 4 de março de 2016

Uma Crônica de Oriximiná especial para O Mariano – 1941

Por Enéas Cavalcanti

A cidade de Oriximiná assistiu, ontem, um quadro vivo que dificilmente poderia ser reproduzido por qualquer artista.
Foi um espetáculo que calou fundamente no coração de cristãos.
A tarde ia morrendo.

Grupos de pessoas de todas as classes sociais deixavam suas casas e se dirigiam para o litoral da cidade, formando massa de gente.
Todos os olhares convergiam para o sul, aguardando a silhueta que havia de aparecer como um cisne, nadando em sentido contrário a correnteza do rio.
“ La vem a Iracema”. . . Gritaram centenas de crianças.
E logo a seguir começaram a subir foguetes e mais foguetes, quebrando a silenciosidade da floresta.
Uma banda musical encheu o ambiente com execução de marchas cadenciadas, numa policromia de sons que alegravam e transportavam corações às regiões espirituais do nosso “EU”, muito além deste arcabouço que é pó e nada mais.
O cisne branco, consciente de sua missão, aproximou-se calmamente da cidade, trazendo no seu bojo duas criaturas Divinas que vieram residir entre nós.
Não se pode descrever o que, então passou a acontecer.
É impossível sondar o coração humano, quando os lábios calam e somente falam os olhos, janela da alma.
Desembarcadas as duas imagens, Senhor Bom Jesus dos Passos e Nossa Senhora das Dores, formou-se um cortejo tão formoso quanto impressionante.
O dia entrava em agonia, como Aquele Tempo memorável de que tanto falou o Divino Mestre.
Jesus, sob o peso da Cruz, acompanhado de sua Excelsa Mãe, atravessava as ruas de Oriximiná, não a caminho de novo Calvário, mas para sentar-se no Trono que a cidade lhe preparara.
Toda a natureza se ajoelhou diante de sua passagem.
As aguas do rio azul se imobilizaram tanto, que pareciam a lamina de um espelho.
Os arvoredos quedaram-se de tal forma, que não mexia uma só folha.
Os horizontes tingiram-se de coloridos graves, desaparecendo suavemente o disco solar para além, muito além das serras que separam agua e céu.
O sudário da noite desceu sobre a cidade, no momento solene em que o cortejo se defrontava com a matriz de Santo Antônio, que abriu os braços  para receber o seu Senhor e seu Deus.
Que espetáculo impotente!
“Queremos Deus“!... Todos repetiam a uma voz!
E queremo-o mesmo para todo o sempre.
Sede bem vindo, Senhor, e residi em nossos corações!

Oriximiná , 6 de Março de 1941”.

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