Por Enéas Cavalcanti
“A cidade de Oriximiná assistiu, ontem, um
quadro vivo que dificilmente poderia ser reproduzido por qualquer artista.
Foi um espetáculo
que calou fundamente no coração de cristãos.
A tarde ia
morrendo.
Grupos de pessoas
de todas as classes sociais deixavam suas casas e se dirigiam para o litoral da
cidade, formando massa de gente.
Todos os olhares
convergiam para o sul, aguardando a silhueta que havia de aparecer como um cisne,
nadando em sentido contrário a correnteza do rio.
“ La vem a
Iracema”. . . Gritaram centenas de crianças.
E logo a seguir
começaram a subir foguetes e mais foguetes, quebrando a silenciosidade da
floresta.
Uma banda musical
encheu o ambiente com execução de marchas cadenciadas, numa policromia de sons
que alegravam e transportavam corações às regiões espirituais do nosso “EU”,
muito além deste arcabouço que é pó e nada mais.
O cisne branco, consciente
de sua missão, aproximou-se calmamente da cidade, trazendo no seu bojo duas
criaturas Divinas que vieram residir entre nós.
Não se pode
descrever o que, então passou a acontecer.
É impossível
sondar o coração humano, quando os lábios calam e somente falam os olhos,
janela da alma.
Desembarcadas as
duas imagens, Senhor Bom Jesus dos Passos e Nossa Senhora das Dores, formou-se
um cortejo tão formoso quanto impressionante.
O dia entrava em
agonia, como Aquele Tempo memorável de que tanto falou o Divino Mestre.
Jesus, sob o peso
da Cruz, acompanhado de sua Excelsa Mãe, atravessava as ruas de Oriximiná, não
a caminho de novo Calvário, mas para sentar-se no Trono que a cidade lhe
preparara.
Toda a natureza
se ajoelhou diante de sua passagem.
As aguas do rio
azul se imobilizaram tanto, que pareciam a lamina de um espelho.
Os arvoredos
quedaram-se de tal forma, que não mexia uma só folha.
Os horizontes
tingiram-se de coloridos graves, desaparecendo suavemente o disco solar para
além, muito além das serras que separam agua e céu.
O sudário da
noite desceu sobre a cidade, no momento solene em que o cortejo se defrontava com
a matriz de Santo Antônio, que abriu os braços
para receber o seu Senhor e seu Deus.
Que espetáculo
impotente!
“Queremos Deus“!...
Todos repetiam a uma voz!
E queremo-o mesmo
para todo o sempre.
Sede bem vindo,
Senhor, e residi em nossos corações!
Oriximiná , 6 de
Março de 1941”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário