A carta abaixo, escrita pelo governador
Francisco Xavier de Mendonça Furtado e endereçada ao seu irmão Sebastião José
(futuro Marques de Pombal), comentando sobre algumas atitudes dos religiosos
jesuítas no rio Tapajós, nos dá ideia das tensões existentes e que acabaram
levando à expulsão dos missionários religiosos da Amazônia.
“Meu
irmão do meu coração:
Mandando eu ordem ao Tenente Diogo Antônio de Castro,
para que na aldeia dos Abacaxis e Trocano, em que está destacado, cobrasse e
remetesse a farinha da derrama, na forma da ordem que tinha passado aos
Prelados das Religiões, e da cópia que remeto a V. Exª, da resposta que tive
daquele oficial, constará a V. Exª o consumo que tiveram as mesmas farinhas e a
razão por que me não socorreram aqueles padres, e os ganhos que faziam estes
religiosos ficarão agora mais próprios nas mãos dos moradores da nova Vila da
Borba.
Da mesma cópia consta que o Pe. Luís Gomes fez na aldeia
dos Abacaxis recruta de gente para a de São Francisco Xavier, e me dizem que é
a forma por que a tem povoado, sem que até agora me conste que se tenha cuidado
em descimento, que foi a ordem expressa que levou.
Por não haver outra relação, nesta mesma lhe participarei
que, passando eu pela aldeia dos Tapajós, me veio falar um capitão da
Ordenança, que há naquele distrito, chamado Domingos Rebelo, que foi muitos
anos cabo das canoas dos padres da Companhia, e principiando a informar-me de
diversos fatos, lhe respondi que eu tinha pouca memória e que me contasse todas
aquelas histórias por escrito. Depois de se defender com o medo que tinha de
que lhe apanhassem a carta, o persuadi ultimamente a que a fizesse e ma
remetesse a este arraial, cuja ordem executou, mas com tanto medo que não
assinou, sendo aliás toda da sua letra, a qual, no seu original, remeto a V.
Exª, cuja fazendo persuado-me que todos os fatos que refere nela são
verdadeiros, porque o do ferreiro é certíssimo, e aqui se acha comigo, e o do
carpinteiro, passou na verdade, porque andando mais de um ano na fábrica das
canoas de Moju, e pedindo-me licença para ir consertar as suas casas e fazer a
sua roça lhe concedi, e lhe mandei pagar como oficial que era, e passando daí a
três meses pelo Tapajós, querendo trazê-lo comigo, me disse que ainda o não
tinham deixado fazer os ditos trabalhos, e que lhe permitisse eu que se
dilatasse até janeiro, o que lhe concedi; porém, com tão pouco fruto que logo
que saí daquela aldeia, foi metido pelo padre no mato a tirar cravo, pelo
miserável ordenado de duas varas de pano por mês, sendo aliás, um bom oficial
de carpinteiro.
Enfim, isto tudo é o mesmo, e só a utilíssima resolução
que S. Maj. tem tomado pode evitar estes perniciosíssimos absurdos e reduzir o
Estado a termos de se civilizar e viverem estas gentes no descanso que devem.
Deus guarde a V. Exª muitos anos.
Arraial de Mariuá, 9 de julho de 1755.
Francisco Xavier de Mendonça Furtado”.
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