“O nosso ilustrado e jovem comprovinciano dr.
Américo Campos iniciou na cidade de Santarém uma série de conferências, que tem
por fim despertar o espírito público a favor da criação da Província do Baixo
Amazonas.
Na primeira
dessas conferências, que teve lugar à 28 do passado, recordou o ilustre médico
os serviços prestados à causa do Baixo Amazonas pelos deputados exmos. Srs.
João Victor e dr. Fulgêncio Simões, nosso chefe de redação, conseguindo geral
aplauso e os mais significativos cumprimentos ao terminar sua importante
alocução.
Agradecendo ao
talentoso dr. Américo as palavras honrosas com que expos os serviços prestados à
causa da descentralização desta região pelo nosso chefe dr. Fulgêncio Simões,
passamos para as nossas colunas a notícia que da conferência deu o nosso colega
Baixo Amazonas.
CONFERÊNCIA: No
domingo (28 do passado) teve lugar no Paço da Câmara Municipal de Santarém, ás
11h da manhã, a conferência que fez o nosso talentoso conterrâneo dr. Américo
Witruvio Gonçalves Campos, colaborador desta folha.
A elite de nossa
sociedade ali concorreu para ouvir o jovem orador, que durante uma hora prendeu
a atenção do auditório, tratando com entusiasmo da maior aspiração da população
desta região = a criação de uma Província com o nome de – Baixo Amazonas.
Antes de começar
a conferência, o nosso virtuoso vigário – arcediago dr. José Gregório Coelho
tomando a palavra expos ao auditório o motivo da reunião apelando para o
patriotismo do povo santareno para que, desprezando ressentimentos
particulares, divergências de crenças políticas, se una em um só pensamento,
abrace uma só ambição para assim conseguir o desejo de todos que é o progresso
moral e material desta vasta e rica região. Terminou declarando que na série de
conferências que se pretende estabelecer nesta cidade, ele reservará para si a
parte literária, moral e religiosa no intuito de por sua vez concorrer para o
engrandecimento do Baixo Amazonas.
O dr. Américo
Campos, ocupando logo o lugar à direita do dr. arcediago começou o seu discurso
em estilo insinuante fazendo um bonito exordio que desde logo captou-lhe as
simpatias do auditório, pois que, à modéstia das frases realçava a figura simpática
do laureado jovem santareno que, a uma causa tão justa oferece a dedicação, o
entusiasmo e a energia da mocidade.
Na exposição do assunto
conservou sempre o orador um estilo singelo, mas os seus elevados pensamentos,
a cadência da frase e a doce inflexão da voz produziam cada vez mais agradáveis
impressões de modo que, quando lembrou os serviços prestados pelo “Baixo
Amazonas”, desde 1872, e pelos deputados João Victor e dr. Fulgêncio Simões em
prol da causa que ele pretende advogar, todo o auditório estava identificado
com o orador e com ele experimentava o mesmo entusiasmo.
O religioso
silêncio com que foi escutado durante uma hora bem demonstrou quanto é nobre a
missão daquele que faz da tribuna uma alavanca de progresso, uma arma de
combate para a conquista do engrandecimento da pátria.
Nesta ocasião
lembrou o orador a solicitude e o interesse com que o ilustrado representante
da província, dr. Fulgêncio Simões, ilustre filho da cidade de Alenquer, tanto
tem trabalhado pela prosperidade deste 6º distrito, arcando contra a hydra da centralização
que tudo avassala, contra a ruinosa tendência da capital, de amesquinhar as
localidades do interior, sugando-lhes a seiva.
No seu discurso
declarou o orador que propõe-se com as duas armas de civilização – tribuna e
imprensa – empenhar luta séria e constante para a criação da nova Província; e
para triunfar só espera que todos os habitantes desta região, firmes e unidos
com ele, trabalhem por este desideratum.
Concluiu dizendo
que vai dar começo a uma série de artigos que serão publicados no periódico “Baixo
Amazonas” e em outro jornal da capital, e que brevemente será redigida a
mensagem em que se tem de pedir ao Governo Imperial e ao Parlamento a criação
da “Província do Baixo Amazonas”.
O orador foi
cumprimentado por quase todos que tiveram a satisfação de ouvi-lo.
Nós, por sua vez,
o felicitamos e a seu digno pai, o nosso amigo, sr. João Victor Gonçalves
Campos”.
NOTA:
Texto publicado no “Gazeta de Alenquer” no dia 20 de janeiro de 1885.
Esse sentimento é bem anterior a esta manifestação... É provável que remanesça a 1770!!!
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