sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

Sobre o Teatro na terra Pauxi

Um dos atores e teatrólogos que marcaram história na Amazônia, encontra-se a figura do paraense José Lima Penante. Sobre sua temporada em Óbidos, sabemos que o mesmo saiu de Manaus em 1º de julho de 1877 em direção à “Cidade Presépio”, para uma turnê no Teatro Bom Jesus. A turnê demorou-se três semanas, até o retorno do ator a Manaus no dia 26 de julho. Lima Penante era maçom, seus espetáculos eram, em grande parte, patrocinados pela maçonaria. Suas peças, de caráter cômico, tinham veladas críticas ao poder eclesial e sua interferência na sociedade. Uma das peças, apresentada em Óbidos, era “O Jesuíta na Garganta”, que despertou voraz oposição do padre Nicolino José Rodrigues de Souza, pároco de Óbidos, que partiu em defesa da Igreja do Pará, e do seu bispo, Dom Macedo Costa. O choque tornou-se inevitável como podemos ver através da seguinte carta, publicada no jornal “O Santo Ofício”, da Capital:


Ontem, por ocasião de principiar o segundo espetáculo do artista Lima Penante, em cujo programa estava “O Jesuíta na Garganta”, houve um conflito entre o povo e as autoridades que não foi mais longe porque da parte do povo manteve-se muita prudência. O povo tinha direito absoluto e a razão foi a seguinte:
Representou este artista no primeiro espetáculo “O Jesuíta na Garganta” e o aplauso manifestou-se geralmente a ponto de lhe pedirem repetição, porém dando-se o escândalo do vigário, cuja monomania é pregar, tomar a tribuna sagrada e anatematizar o Teatro e aqueles que vivem sob o poder de Satanás, o povo reagiu persistindo no pedido e vontade de ver em cena o Jesuíta na Garganta.
Como sabe o nosso país vai decaindo miseravelmente, desde que a época é dos padres jesuítas que com sua falsa propaganda vão se apoderando dos espíritos fracos como o da nossa princesa imperial, que até se presta a varrer igrejas e fazer penitências. Sendo ela da grei jesuítica, as autoridades acompanham a crença, assim como a parte ignorante do povo o que se deixa levar pelo hipócrita, que, de cruz alçada, vai plantando o despotismo na crença de Jesus Cristo a ponto de levar ao púlpito quanta sandice lhe vem ao bestunto. Este hipócrita é o vigário José Nicolino, que por força quer fazer acreditar que a Companhia de Jesus é a única salvadora dos povos.
Testemunhou o artista Lima Penante este escândalo das autoridades concumbinadas [sic] com o vigário, que sendo muito virtuoso não passa de vingativo, grosseiro e indiscreto desde que, por sua infelicidade, é supinamente ignorante. Óbidos viu proibir-se o espetáculo, e calcada aos pés a liberdade de pensamento e a Constituição do Império.

Óbidos, 10 de julho de 1877. – O povo.”

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