Um dos atores e teatrólogos
que marcaram história na Amazônia, encontra-se a figura do paraense José Lima
Penante. Sobre sua temporada em Óbidos, sabemos que o mesmo saiu de Manaus em
1º de julho de 1877 em direção à “Cidade Presépio”, para uma turnê no Teatro
Bom Jesus. A turnê demorou-se três semanas, até o retorno do ator a Manaus no
dia 26 de julho. Lima Penante era maçom, seus espetáculos eram, em grande
parte, patrocinados pela maçonaria. Suas peças, de caráter cômico, tinham
veladas críticas ao poder eclesial e sua interferência na sociedade. Uma das
peças, apresentada em Óbidos, era “O Jesuíta na Garganta”, que despertou voraz
oposição do padre Nicolino José Rodrigues de Souza, pároco de Óbidos, que
partiu em defesa da Igreja do Pará, e do seu bispo, Dom Macedo Costa. O choque
tornou-se inevitável como podemos ver através da seguinte carta, publicada no
jornal “O Santo Ofício”, da Capital:
“Ontem, por ocasião de principiar o segundo
espetáculo do artista Lima Penante, em cujo programa estava “O Jesuíta na Garganta”, houve um
conflito entre o povo e as autoridades que não foi mais longe porque da parte
do povo manteve-se muita prudência. O povo tinha direito absoluto e a razão foi
a seguinte:
Representou este artista no primeiro
espetáculo “O Jesuíta na Garganta” e
o aplauso manifestou-se geralmente a ponto de lhe pedirem repetição, porém
dando-se o escândalo do vigário, cuja monomania é pregar, tomar a tribuna
sagrada e anatematizar o Teatro e aqueles que vivem sob o poder de Satanás, o povo reagiu persistindo no pedido e vontade de
ver em cena o Jesuíta na Garganta.
Como sabe o nosso país vai decaindo
miseravelmente, desde que a época é dos padres jesuítas que com sua falsa
propaganda vão se apoderando dos espíritos fracos como o da nossa princesa
imperial, que até se presta a varrer igrejas e fazer penitências. Sendo ela da
grei jesuítica, as autoridades acompanham a crença, assim como a parte
ignorante do povo o que se deixa levar pelo hipócrita, que, de cruz alçada, vai
plantando o despotismo na crença de Jesus Cristo a ponto de levar ao púlpito
quanta sandice lhe vem ao bestunto. Este hipócrita é o vigário José Nicolino,
que por força quer fazer acreditar que a Companhia de Jesus é a única salvadora
dos povos.
Testemunhou o artista Lima Penante este
escândalo das autoridades concumbinadas [sic] com o vigário, que sendo muito
virtuoso não passa de vingativo, grosseiro e indiscreto desde que, por sua
infelicidade, é supinamente ignorante. Óbidos viu proibir-se o espetáculo, e
calcada aos pés a liberdade de pensamento e a Constituição do Império.
Óbidos, 10 de julho de 1877. – O povo.”
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