Abaixo transcrevemos uma carta
do Vigário de Alenquer, o padre João Cândido Rodrigues de Mello, rebatendo algumas calúnias contra ele levantadas
pelo major Luiz de Oliveira Martins. Pe. João Cândido foi um dos padres que mais tempo ficou à frente da Paróquia de Santo Antônio de Alenquer, (1855 a 1885).
“Foi
propósito meu nunca sair do silêncio, maiormente por motivos pessoais. Preferi
sempre ser julgado à revelia, convencido de que o público desta vila, que tão
particularmente me conhece, teria em meus atos a resposta merecida às
afirmações gratuitas, senão também às calúnias e aleivosias de inimigos
pequeninos e traiçoeiros.
Infelizmente a agressão agora deu-se fora do recinto desta vila e
perante um público, que não me conhece. Desde então o meu silêncio, longe de
explicar confiança na consciência pública, significaria a confissão implícita
das imputações malévolas ou calunias de que fui ultimamente o alvo a bordo do
vapor “Óbidos”, da Companhia do Amazonas, limitada, por parte do sr. major Luiz
de Oliveira Martins.
Surpreendeu-me a notícia do muito que aí articulou o sr. Martins contra
a minha pobre individualidade, quando não havia muitos dias s. sª., ao
despedir-se do vigário de Alenquer, lhe significara os maiores protestos de
estima, consideração e respeito pessoal.
Tenho amigos, mercê de Deus, fora do estreito círculo desta vila,
ambiciono continuar-lhes a merecer o conceito em que sempre fui tido por eles,
e assim também a confiança de meus superiores. Esta circunstancia me impõe o
dever de pedir ao sr. Martins o obséquio de expor francamente as acusações que
formulou contra mim, individuando até os fatos de minha vida por mais torpes
que lhe pareçam, para que possa eu explicar e ser então julgado perante a
consciência pública, a qual me condenará como indigno da posição que ocupo, ou
fulminará o caluniador parvo, que se aproveita jeitosamente da ausência para
ferir traiçoeiramente o homem, a quem antes tributara protestos de maior
consideração, respeito e estima pessoal.
Quero defender-me e preciso que a acusação seja articulada. Uma coisa
eu peço ao sr. Luiz de Oliveira Martins, e é – que não use de reticências
comigo. Terei a necessária calma de espírito para discutir todos os fatos da
minha vida, quaisquer que sejam as cores que a maledicência lhes queira
emprestar. Venha portanto o sr. Martins, mas venha com seu nome, porque terei
então ocasião de mostrar quem sou eu, também quem é o sr. major Luiz de
Oliveira Martins.
Já que tanto é preciso, eu convido ao sr. Martins para vir sustentar na
imprensa as acusações com que me feriu, em uma reunião de pessoas sérias, que,
graças ao sr. Martins podem formar de mim conceito menos ajustado. É uma
provocação decente a que dirijo ao meu traiçoeiro detrator na esperança de que
ele saberá aquilatar os deveres de cavalheiros, ou também a honra de um
sacerdote, que tudo empenha para dar boa conta de si.
Resido em Alenquer, onde sou colado, desde muitos anos, e não tive
nunca ocasião de arrepender-me da consideração que tenho despendido com todas
as pessoas com quem tenho tratado, seja em meu caráter público, seja como
particular. Só agora me encontro maravilhado com o sr. Luiz de Oliveira
Martins, talvez porque se presuma muito rico e poderoso; pobre porém como sou,
eu não temo a ira de potentados de aldeias, e menos ainda medir-me com eles
para arrancar-lhes a máscara que lhes cobre o rosto vilão e expô-los assim, ao
natural, ao julgamento dos homens de bem.
Venha, pois o sr. major Luiz de Oliveira Martins selar com seu nome as
infâmias que articulou em minha ausência. Venha; eu asseguro às pessoas, que me
honram com sua amizade, que estou no caso de continuar a merecê-la, enquanto
deixarei provado o que é o vão esse indivíduo que se faz conhecer com o rótulo
– major Luiz de Oliveira Martins!
É preciso que este indivíduo fique, de uma vez, conhecido pelo público,
senão também do governo tantas vezes por ele covardemente iludido.
Então, eu darei os motivos porque s. s., ausentando-se para a capital,
não passou-me o arquivo de delegado literário, onde há infâmias, que só podem
ajustar-se ao caráter do meu pequenino detrator.
Alenquer, 7 de março de 1876.
O Vigário Colado
João Cândido Rodrigues de Mello”.
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