Poucas pessoas sabem,
mas o lugar da origem da humanidade fica às margens do rio Tapajós. Ao menos na
mentalidade dos nossos antepassados indígenas, conforme nos dia o Padre João
Daniel, em seu “Tesouro Descoberto”. Vejamos o texto que até hoje nos provoca admiração
e cujo estudo ainda está pouco aprofundado (os grifos são meus):
“Junto
da catadupa do rio Tapajós, acima de sua foz pouco mais de cinco dias (canoa a
remo) de viagem, está uma fábrica, a que os portugueses chamam CONVENTO, por
ter o feitio dele. Consiste este em um comprido corredor com seus cubículos por
banda, e com suas janelas conventuais em cada ponta do corredor. É Fabrica,
segundo me parece das poucas notícias que dão os índios brutais em cujas terras
está, de pedra e cal, e conforme a sua muita antiguidade mostra ser feito por
mãos de bons mestres. É todo de abóbada, e muito proporcionado nas suas
medidas, e não é feito, ou cavado em rochedo por modo de lapa, ou concavidade,
como são os templos supra, mas obra levantada sobre a terra. Alguns duvidam se
toda a Fábrica consta de uma só pedra, porque não se lhe veem as junturas:
famoso calhau se assim é e na [verdade] só sendo um inteiro calhau parece podia
durar tanto, pois segundo o ditame da razão se infere que ou é obra antes do
universal dilúvio, ou ao menos dos primeiros povoadores da América, que por tão
antigos ainda se não sabe decerto donde foram, e donde procedem. A tradição, ou
fábula, que de pais a filhos corre nos índios, é que ali moraram, e viveram
nossos primeiros pais, de quem todos descendem, brancos e índios; será talvez a
principal, e ordinária serventia do palácio, e outra uma como porta travessa:
outros dizem que naquele convento moraram os primeiros povoadores da América, e
que repartindo a seus filhos, e descendentes àquelas terras, eles bulharam
entre si sobre quem havia de ficar senhor da casa, e que finalmente só se
acomodaram desamparando a todos. Eu não disputo agora sobre estas tradições,
cuja ponderação deixo à discrição dos leitores, só digo que o palácio, ou
convento bem merece veneração por velho e gozar dos privilégios dos mais
antigos. Algum autor houve, que discorria ser a América o paraíso terreal, onde
Deus pusera a Adão, apontava para isso várias razoes, fundadas já na sua grande
fertilidade, e já nos seus grandes rios; e outros que não aponto por me
parecerem quiméricos, além de assentarem os maiores escriturários, que o lugar
do paraíso era, e é na Ásia, encoberto, e oculto aos homens; e também pode ser
na América do que prescindo; só digo que os que o põem na América tem neste
CONVENTO, e tradição dos índios grande fundamento. A verdade é que os índios
lhe tem tal respeito e veneração, que se não atrevem a morar nele, não obstante
o viverem em suas fracas choupanas quanto basta a encobrir os raios do sol e
incomodidade da chuva; nem tem instrumentos para maiores fábricas, por não
terem uso do ferro; e tendo ali casas feitas e bem acomodadas, as deixam estar
solitárias, servindo de covis aos bichos do mato e de palácio aos grandes
morcegos, e aves noturnas que ali vivem e moram muito contentes, e sossegadas
enquanto os tapuias lhes não dão caça com as suas flechas, para deles fazerem
bons assados, e melhores bocados para os seus sair pela sua porta os índios, e
por isso saíram tisnados, e vermelhos: e quem fumo, e algumas vezes fogo por
entre as pedras; talvez que neles se tisnassem ao sair pela sua porta os
índios, e por isso saíram tisnados, e vermelhos; e quem sabe se por causa deste
fogo e fumo, não habitam o convento?”
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