quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

Descrição de um viajante: Monte Alegre – 1865

O naturalista Luís Agassiz e sua esposa Elizabeth Cary Agassiz, fizeram na segunda metade do século XIX, uma expedição pela Amazônia. Ao passarem pela então vila de Monte Alegre no dia 25 de agosto de 1865, nos deixaram o seguinte relato:



É meio-dia quando chegamos em frente dessa pequena vila, situada na margem esquerda do Amazonas, na embocadura do afluente Gurupatuba, e o calor está tão forte que não desejo descer em terra antes do cair da tarde. Monte Alegre está assentada no alto duma encosta que se afasta das margens do rio em declive suave, e tira o seu nome dum morro situado a quatro léguas ao nordeste. O terreno é mais acidentado e irregular do que o tem sido até agora; mas, apesar disso, o local não me parece merecer a denominação que lhe foi dada. O aspecto desse distrito se me afigura antes um tanto triste; o solo é todo areia, a floresta baixa, interrompida de quando em quando por campinas baixas e pantanosas cobertas de ervas grosseiras. A areia assenta sobre o mesmo depósito avermelhado, cheio de seixos rolados de quartzo, que vimos encontrando constantemente em nosso caminho. Aqui e ali, esses seixos estão dispostos em linhas onduladas como se uma estratificação parcial se tivesse operado; porém, em outros pontos, tudo indica que o orifício foi revolvido pelas águas, embora não esteja de todo estratificado. Durante o dia, vou fazer um passeio até o cemitério do lugar; tem-se, desse ponto, a mais linda vista da redondeza. O campo dos mortos está cercado por uma paliçada; ao centro, uma pesada cruz de madeira rodeada de cruzes menores que assinalam as sepulturas. Está bem descuidado; em todos os lugares em que a areia não é bastante dura, cresce o mato, a que parece estar abandonado o solo ingrato por toda a vida. Pouco mais adiante, a colina é talhada a pique e, do alto, se descortina uma grande planície coberta por floresta baixa que se estende até o monte a que a vila deve o seu nome. Voltando-nos para o sul, temos em frente uma série de lagos, separados uns dos outros por terras de aluvião muito pouco elevadas que formam esses campos pantanosos de que acima falei. Monte Alegre é um dos mais antigos estabelecimentos da Amazônia; mas devido a todas essas circunstâncias desfavoráveis, a sua população diminui em vez de aumentar. No meio da praça pública estão as quatro paredes duma catedral começada há quarenta anos e até hoje inacabada. As vacas pastam o capim nas partes baixas do edifício que se poderia tomar por um triste monumento destinado a atestar a miséria dessa localidade. Aceitamos a hospitalidade que o Sr. Manuel teve a bondade de nos oferecer. Ele não ignora que os mosquitos vão cair em nuvem espessa sobre o navio e convidou-nos a passar a noite sob seu teto. Esta manhã, tomamos uma embarcação, demos uma volta pelas imediações, um pouco para termos a oportunidade de pescar. Estivemos parados um par de horas numa fazenda de criação, situada perto do rio, e donde se levará para bordo um certo número de bois e vacas destinados ao mercado de Manaus. Parece que uma das principais indústrias da localidade é a criação de gado; com a salga do peixe, a venda de cacau e borracha, constitui o comércio da praça”.

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