Por Pe. Sidney Augusto Canto
01. O Barão que foi cabano e virou de lado...
O autor da obra
“Tupaiulândia”, ao escrever o capítulo sobre a Cabanagem, usou como referência
uma carta escrita por Joaquim Rodrigues dos Santos. Estranhamente, Paulo
Rodrigues dos Santos omitiu um fato interessante descrito no referido texto da
carta: quando os cabanos invadiram a Câmara de Santarém com o intuito de matar
o Juiz da Comarca, o jovem soldado Miguel Antônio Pinto Guimarães (futuro Barão
de Santarém), armado, era um dos membros da Guarda Nacional que se amotinaram e
se uniram ao chefe cabano, estando sempre ao seu lado quando este invadiu a
Câmara Municipal, pronto para atirar contra os chefes da municipalidade. Foi
este jovem militar um dos que mais comemoraram a saída do magistrado do
Município dando vivas à revolução cabana. Curiosamente, alguns dias depois, seu
pai é morto pelos cabanos e ele se torna o homem mais rico de Santarém.
02. O Barão que não foi fiel ao seu Imperador...
Não foi somente
o Barão de Santarém que virou a casaca na política municipal. O Barão de
Tapajós (José Caetano Correa) chegou a ser membro de destaque do partido
Conservador e fiel defensor do Imperador Dom Pedro II. Mas, horas depois do
final do Império e nos primeiros dias da República, virou sua casaca, abraçou
os ideais republicanos e continuou chefe político de Santarém, sendo escolhido
como seu primeiro Intendente.
03. Os “germanistas” inconvenientes...
Estava em curso
a Primeira Grande Guerra Mundial. Dois eminentes chefes políticos locais: o dr.
Alarico Barata (advogado e juiz substituto da Comarca) e o dr. Bernardo Borges
Pires Leal (promotor público da Comarca), eram amigos de um alemão, Ernest
Somitag, gerente da Companhia Alsaciana de Plantações no Brasil, que residia na
fazenda Cacoal Grande, em Monte Alegre. Os três frequentavam e bebiam com
frequência no botequim “Caraboo”, o que provocou uma denúncia contra os dois
brasileiros por serem amigos dos alemães, contra quem o Brasil havia declarado
guerra. Por sorte a guerra acabou naquele ano de 1918 e o caso ficou
esquecido...
04. O complicado mês de outubro de 1930
Santarém começou
o mês de outubro de 1930, tendo como Intendente Municipal o coronel Joaquim de
Vasconcelos Braga, que desde 1924 vinha regendo o município. No dia 10 de
outubro ele deixa efetivamente o cargo de Intendente e o passa para as mãos do
sr. Aureliano Imbiriba, presidente do Conselho de Intendência que assume como
último Intendente interino de Santarém. Nesse mesmo dia o Governador do Pará,
Eurico Vale, nomeia para o cargo de Intendente o dr. Oswaldo Caheté que já
havia tentado concorrer ao cargo em 1918 (mas perdeu para o dr. Waldomiro
Rodrigues dos Santos). E, novamente, não chegaria a assumir a função, pois a 24
de outubro eclode o golpe que deu início à ditadura Vargas. Santarém deixaria
de ter Intendente e passaria a ter um Prefeito Municipal na pessoa do coronel
Antônio Pinto Brandão que ocupou o cargo de 30 de outubro até 24 de janeiro de
1931, sendo substituído por Ildefonso Almeida que assumiu o cargo a 26 de
janeiro de 1931.
05. E que o Coreto da Matriz jamais se meta em
política...
Em 1934, na
primeira fase da ditadura Vargas, foi convocada uma eleição geral no estado do
Pará. Os Liberais apoiavam Magalhães Barata, os frentistas (Frente Única)
apoiavam Lauro Sodré. Os comícios eram, então, feitos no Coreto da Matriz. Um
belo dia, os liberais descobriram que as tendências mais atuantes e simpáticas
ao Coreto eram de cunho frentista. Os liberais correram para a casa do “chefe”
para delatar o caso. Foi quando os chefes do partido liberal (baratistas/ildelfonistas)
decretaram: “Fica determinado, seja DANIFICADO para não se meter em política.
Cumpra-se e não se publique”. E o Coreto, danificado, ficou em silêncio
até ser reformado pelo prefeito Borges Leal, depois que os liberais perderam o
poder...
06. Frei Rogério Voges contra os candidatos “baratistas”...
Na ocasião da
eleição entre a Frente Única e o Partido Liberal, acima citada, Frei Rogério
Voges, escreve aos católicos santarenos pedindo votos para a Frente Única (e
não, não foi por causa do atentado contra o Coreto da Matriz). Em panfleto
distribuído copiosamente pela cidade, Frei Rogério, dirigindo-se ao “Povo
Católico de Santarém”, acusa o Partido Liberal de votar contra todas as
propostas emanadas da Igreja Católica durante a elaboração da Constituinte
Federal de 1934 e convida o povo a votar justamente naqueles que foram
excluídos pelo major Barata da ala do Partido Liberal que haviam votado em
favor das referidas emendas.
07. O Movimento Integralista em Santarém...
No dia 02 de
setembro de 1935, foi instalado o Núcleo Integralista de Santarém. Muitos
santarenos abraçaram a causa, entre eles o primeiro chefe: Carlos Chaves de
Oliveira, substituído logo depois por Antônio Veloso Salgado, Jorge Sarmento,
Wilson Dias da Fonseca, Edmir Sussuarana e Topasio Pampolha (responsáveis pelo
jornal integralista O SIGMA), Ambrósio Caetano Correa Júnior, Dr. Guttemberg
Fernandes, Antônio Ávila, Geraldo Alho, Octávio Sirotheau, Vicente Malheiros,
entre outros. Em Santarém, os “Camisas verdes” (como eram chamados os
integralistas) tinham como inimigos políticos os “Camisas azuis” (Partido
Social Democrata do Pará) e declararam guerra contra a loja Maçônica
“Fraternidade Santarenense”, espalhando, contra ambos, diversos panfletos
acusatórios. Anauê!!!???
08. O que as santarenas cantavam para o general Zacarias...
Em fins de 1950,
durante a campanha para o Governo do Estado do Pará, as mulheres da ALA
FEMININA ZACARIAS DE ASSUNÇÃO, em Santarém, cantavam uma música que tinha a
seguinte letra:
Avante, Santarenos, / Com coragem e expansão,
Lutando firmes e serenos, / Nos moldes da
Constituição!
Estamos fartos de promessas, / Conversa sem
realização.
Precisamos de um homem impoluto / E resoluto como o
Assunção!
REFRÃO: O general do Povo, / Nesta pugna eleitoral,
/ Já venceu e há de ser em nossa terra / O Governo Estadual! (BIS)
A animada letra
conquistou simpatizantes. E, apesar de Santarém ser um reduto de baratistas, o
general Zacarias ganharia as eleições daquele ano.
09. O manifesto do “Juca” Walfredo...
Um dos primeiros
vereadores eleitos como representante do povo cearense, obtendo uma grande
maioria dos votos da Vila de Mojuí dos Campos e também na cidade de Santarém,
foi Júlio Walfredo Aguiar (popular Juca). Durante sua atuação, no ano de 1961,
ele lançou um PROTESTO PÚBLICO, distribuído em forma de panfleto pela cidade de
Santarém, relativo à construção do novo MERCADO MUNICIPAL. Eram essas as
denúncias do vereador:
“Primeira: O mercado que se acha em início de
construção, não foi feito por concorrência pública;
Segunda: Os fornecimentos de materiais para o mesmo,
não estão sendo feitos por concorrência pública;
Terceira: As dependências do mesmo (quartos) já
estão sendo todos vendidos aos afilhados, sem concorrência pública”.
No referido
protesto, o vereador exigia, pelo bem do povo, que a obra do novo mercado fosse
feita tendo em vista a concorrência pública.
10. O candidato dos sindicatos de trabalhadores...
Em 24 de outubro
de 1978, um manifesto de apoio à candidatura do ex-prefeito Ubaldo Corrêa à
Câmara Federal foi assinado por diversos sindicalistas. Nele, os sindicalistas
pedem voto para o “santareno da gema” ao invés de votar em candidatos “de
fora”. Assinam o manifesto: Francisco Costa Cunha (presidente do Sindicato dos
Estivadores de Santarém), Raimundo de Carvalho Branco (presidente do Sindicato
dos Condutores de Veículos Rodoviários), José Maria Maciel (presidente do
Sindicato do Comércio e Vendedores Ambulantes de Santarém), Arnaldo Ferreira
Diniz (presidente do Sindicato dos Trabalhadores na Indústria da Construção Civil),
Adeildo Barbosa dos Santos (presidente do Sindicato dos Trabalhadores na
Industria de Panificação), Artêmio Almeida de Sousa (presidente do Sindicato
dos Trabalhadores na Industria de Fiação e Tecelagem) e também pelo assessor
sindical Djalma de Sousa Júnior. Ubaldo tentava a reeleição para deputado
federal, mas ficou como suplente.
Fontes: Acervo
pessoal do autor, acervo ICBS e acervo da Biblioteca Nacional.
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