quinta-feira, 1 de março de 2018

Sobre a antiga “Companhia dos Caroços” em Santarém – 1922


Depois que a florescente empresa “The London Brazilian Products (Brazil) Ltda” instalou-se em Santarém, não mais se desperdiçaram em nossas florestas, deterioradas pelas intempéries ou estraçalhadas pelos daninhos roedores, as sementes oleaginosas, cuja inconteste utilidade é de inestimável proveito nas industrias modernas. Assim é que, há cerca de dois anos, os habitantes do interior, onde abundam as palmeiras produtoras destas sementes, máxime o curuá, vem empregando a atividade no mister de colhe-las, certos que estão da facilidade com que as negociarão e certos também de um rendimento que se não deve desprezar e que lhes é uma ajuda de custas nesta asfixiante quadra de dificuldades.

Note-se que para dedicar-se à colheita do curuá e outras espécies oleaginosas, o lavrador não precisa relegar ao abandono o trato de sua gleba, nem seria justo que isto se lhe exigisse. Em chegando a safra das sementes, tem ele bastante tempo, nas horas vagas, para recolher regular quantidade, serviço este que pode mesmo ser feito por mulheres e crianças. E tendo “The London Brazilian” um rebocador para o serviço de transporte dos produtos que adquire, ao coletor de sementes mais fácil lhe é a venda, pois tem a vantagem de fazer embarcar a mercadoria no próprio porto de sua habitação.
Como se vê, é vantajoso o negócio das sementes, não precisando, para pô-lo em prática, emprego de capital, e não tendo outras despesas além da que invariavelmente é feita com a subsistência.
Isto quanto a colheita. Com relação ao comércio das sementes, este é certo e seguro, visto como a empresa a que aludimos, prima em negociar com lisura, graças ao que, não obstantes as dificuldades com que luta, vem prosperando dia a dia e mais e mais se firmando, não só neste como nos vizinhos municípios onde tem transações.
Não é nosso intuito, ao grafarmos estas linhas, fazer reclamos da vulgarmente chamada “Companhia dos Caroços”, pois a maneira porque vem se impondo é o melhor reclamo que ela, de si mesma, faz. Nosso escopo é mostrar aos patrícios do interior um meio fácil de adquirir novos rendimentos com os quais poderão fazer face às necessidades que os angustiam, e concorrer de nossa parte para a melhoria da situação desses estoicos habitantes das zonas ribeirinhas, sempre e sempre alvo das moléstias e outros males.

NOTA: Publicado no jornal A Cidade de 23 de dezembro de 1922.


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