quinta-feira, 1 de março de 2018

Os castanhais de Alenquer e um caso de saúde pública – 1921


É de penalizar o estado físico de diversos compatrícios nossos que, pelas ruas desta cidade, perambulam; uns implorando a caridade pública; outros abandonados de si mesmos, entregues às moléstias que os prostram nas calçadas, arquejantes, incômodos que lhes minam os organismos quando lutavam pela vida no labor das brenhas tapajoaras, amazônicas ou curuaenses, em busca da borracha ou da castanha.
Tiritantes do frio do impaludismo; desalentados pela febre que os prostra ou cabisbaixos, amargurados, estoicamente fitando resignados as chagas horrorosas que lhes vão corroendo os pés, as mãos, deformando as pernas e o corpo todo, condói ouvir-lhes a narrativa de tais sofrimentos, narrativa que estaciona no ato desumano do abandono dos infelizes por parte dos “patrões” ou dos comandantes dos navios em que embarcaram, os quais os mandam jogar no trapiche ou nas praias desta cidade.

Alguns, como agora vimos de saber, dizem que trabalhavam nos castanhais de Alenquer, onde adoeceram. Depois, transportados àquela cidade, imploraram o auxílio do sr. Intendente, a fim de se recolherem à Santa Casa, em Belém.
De Alenquer embarcaram; mas, para logo, surpresos, angustiados, sem recursos, serem desembarcados aqui em Santarém que, ao que parece, é a Santa Casa que lhes destinaram...
Maldade dos senhores Comandantes, ou caso pensado do sr. Intendente de Alenquer?
Não o sabemos.
O que se constata é que são fatos cruéis e abusivos, dos que os põem em prática, sacrificando a saúde pública santarense.

NOTA: Publicado no jornal A Cidade de 13 de agosto de 1921.


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