sábado, 10 de março de 2018

Poema em prosa: No silêncio de uma noite hibernal


Por Apolônio Fona

Porque choras?
Interrogação certante como lamina afiada e perfurante como a ponta de um punhal. E, contudo, é a verdade: choro, sinto correrem-me pelas faces polidas rios de lágrimas quentes como fogo e que, no me lavarem os lábios amargam como fel.
E ris!

Mas há de chegar o dia em que, em tua vida, desponte a alvorada do amor. E cantarão os pássaros, flores impregnarão de perfume suave e embriagador o espaço, riachos entoarão, rolando por entre pedras, alvinitentes cavalinhos celestiais, tudo encantando-te a vida, embelezando-se a existência. Mas também virá a noite, como veio a alvorada, e terás, como eu, uma noite hibernal e triste como esta.
E então hás de sentir e hás de compreender que amar, sofrer e chorar é o destino supremo dos que vivem!

NOTA: Escrito em 10 de março de 19132. Publicado no jornal Gazeta do Norte de 12 de março de 1932. É possível que o texto poético do nobre fotógrafo santareno, tenha sido impresso em prosa, por causa a nós desconhecida (vontade do autor ou erro de impressão?).


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