quarta-feira, 14 de março de 2018

Um apelo por Santarém em 1921


Não há negar que o nosso município tem evoluído em sua vida agrícola, graças, quiçá, à descida vertiginosa que, na cotação do comércio mundial, sofreu a borracha – o dourado de quantos, atraídos pela fortuna, se embrenhavam nas ínvias matas amazônicas. Desfeita a ilusão desses denodados bandeirantes, começaram todos de compreender o erro em que permaneciam entregando-se exclusivamente ao cultivo da hevea, que colossais riquezas proporcionou, é verdade, mas que, por isso mesmo, a muitos deixou arruinados para não mais se erguerem.
Desafiando o braço e a dedicação do lavrador, terras úberes aí estavam aptas à policultura, abandonadas, porém, por aqueles que só no “ouro negro” viam o veículo de suas ambições de fortuna.

Mas, há males que vem para bem. Desvalorizada a borracha, restava tomar outro roteiro. Rumo ao campo! Foi o refrão salvador contraposto ao rumo ao seringal. E a agricultura que, em muitos lugares, era um arremedo, tomou vulto e venceu.
Haja vista Santarém. Nosso município pode agora ufanar-se de ser um daqueles que, abandonando a ilusão do “ouro negro”, cuidou seriamente da cultura de suas terras.
De importadores de diversos gêneros que éramos, podemos hoje exportar em regular escala muitos deles. Em duas viagens que fez ao nosso porto, daqui levou o lugre “Adamastor” os porões atestados de produtos santarenses, que lá, em Portugal, foram pôr à prova a excelência e a uberdade do nosso solo. Já na terra lusitana são conhecidos alguns dos nossos gêneros; com uma propaganda inteligente, não tardará que de outras terras nos procurem para um intercâmbio que assaz nos aproveitará.
O sr. Coronel Raymundo P. Brasil, que é um dedicado propagandista das riquezas do Pará, em artigos que vem publicando na “Folha do Norte”, dedicou um deles, o segundo da série, à Santarém. Nesse trabalho, o coronel Brasil descreve com muito acerto a prosperidade do nosso município, suas riquezas, a excelência do seu clima, a densidade de sua população, sua indústria, etc. e apresenta uma estatística de sua exportação, no qual se evidencia a sua vida econômica, o seu progresso, enfim.
É disto que precisamos. Fazendo uma acurada propaganda das nossas coisas, tornando-as conhecidas não só no país como no estrangeiro, em breve nos advirão proventos e com eles melhores dias para nossa terra.
Façamos a propaganda; mas antes de tudo façamos por nos desvencilhar dos tentáculos opressores dessa tarântula sequiosa que é a Port of Pará. Sem nos vermos livres da taxação absurda dessa companhia inglesa, nada teremos feito.
Miss Anga.


NOTA: Publicado no jornal A Cidade de 27 de agosto de 1921.

Nenhum comentário:

Postar um comentário