No tempo em que
o “ouro negro” era a pivot em torno do qual girava a
prosperidade da hoje malfadada região amazônica, Santarém, prezando o seu progresso,
teve também alguns surtos de iniciativa.
Ainda se
conserva na retentiva de todos a maneira porque se amparou a alevantada e
grandiosa ideia da fundação de um hospital, cuja urgência, dados os nossos
foros de terra movimentada, foi compreendida por quantos dela tiveram ciência.
Todos sabem que, para a execução desse empreendimento, para logo se associaram
as pessoas mais gradas da cidade. E era mesmo de crer na viabilidade do vultoso
tentame, pois a tanto nos levava o primeiro passo dado para a construção do
prédio do hospital.
Com o júbilo de
todos os que se interessavam pelo engrandecimento desta nesga da terra
paraense, levantaram-se as primeiras paredes do edifício; com alegria, todos
viam progredir diariamente a obra iniciada. Mas (o “mas” é inimigo do
progresso) por uma dessas fatalidades que torcem os destinos dos povos, os
nossos sonhos dourados deliram-se, evaporam-se como a fumaça que um sopro
impeliu...
Morreu a ideia
do hospital, não obstante o adiantamento das obras, para o que já se havia dispendido
não pequena soma. Nunca mais se pensou nesse empreendimento de grande vulto; da
bela iniciativa nada mais sobeja a não ser a maguada lembrança duma bonançosa
nuvem que se esvaiu...
Apenas, e como a
atestar o novo descaso pelos tentames de maior relevo ou a nossa falta de
persistência nas iniciativas de grande monta, lá está de pé, corroído,
esverdinhado de limo, o esqueleto daquilo que deverá ser o nosso hospital.
Causa dó vermos
largadas às intempéries aquelas paredes com esforço másculo erigidas;
entristece presenciarmos o arruinamento duma importante obra que se iniciou com
tanto sacrifício.
Quando a
epidemia da gripe invadiu a nossa terra apavorando a indefesa população, todas
as atenções se volveram para um único ponto: o hospital. Todos compreenderam a
necessidade, a urgência de um edifício para o recolhimento de doentes. Ah! Se
tivéssemos o nosso hospital!...
Mas passou a
pandemia e nunca mais e ninguém acordou a lembrança da utilidade desta
instituição humanitária.
Só da nossa imaginação
jamais se apagou a ideia de Santarém ser dotada de um empreendimento digno de
seu progresso. E aqui estamos lançando nova semente em terreno inculto, embora,
mas que pode um dia tornar-se apto para receber o pequeno contingente do
semeador.
Venham em nosso
auxílio aqueles que sabem querer; venham com fé e, unidos, propaguemos a
sementeira.
Quem sabe se, em
tempo não muito longínquo, ela florirá gloriosa?
NOTA: Publicado
no jornal A Cidade de 20 de agosto de 1921
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