Dorme no
esquecimento da terra mocoronga o nome de um homem que muito fez pela mocidade
que aqui vive e aqui trabalha, deixando para comprovar sua grande dedicação,
jovens musicistas que, pelo seu grande desenvolvimento, bem dizem da
competência que possuía aquele que, em vida, chamou-se José Agostinho da
Fonseca.
Homem de uma
modéstia fora de comum, o professor José Agostinho muito trabalhou pelo
desenvolvimento da arte musical em nossa cidade, às vezes lecionando
gratuitamente, dispondo para isso até das horas que lhe sobravam para repousar,
não esmorecendo ante os tropeços que se lhe eram apresentados pelos que não
olham com amor a terra que lhes dá hospedagem.
Natural do
Estado do Amazonas, depois de aqui chegar, registrou-se paraense, numa
demonstração do quanto seu coração ficou embebido pela terra dos índios
Tapajós. E quando alguém dizia que o velho mestre era filho de Manaus,
revoltava-se, constrangendo-se até. Não queria deserdar o nome da terra que
escolheu por berço mater. Queria ser santareno, pois aqui viu e sentiu a sua
Musa surgir das belas noites de luar, quando ele muito cantou o nome de
Santarém. Cantou como nenhum outro musicista soube cantar. Cantou porque achou
que a “Pérola do Tapajós” merecia que assim o fizesse. Cantou porque aqui viu
surgir, do ventre de sua amada companheira, o primeiro, o segundo, o terceiro,
o quarto e o quinto rebento, que lhe inspiravam as notas que compunham as suas
canções em homenagem às nossas praias, às nossas matas, às nossas águas, numa
comunhão com o sentimento da hospitaleira gente da “Rainha do Baixo Amazonas”.
José Agostinho
da Fonseca era amazonense de nascimento, mas santareno de coração. Por isso
jamais trocou nossas coisas, nossas ideias, pelas coisas ou pelas ideias do
povo amazonense, o seu coração de artista sempre soube distinguir a beleza de
nossa terra e o sentir da cabocla mocoronga, que com a quentura de seios
morenos, cativou o criador de “Criminosa”.
As nossas ruas e
travessas estão lastradas de nomes de homens que jamais fizeram alguma coisa
por Santarém, e que, por isso mesmo, foram imerecidamente homenageados. No
entanto, o nobre compositor de “Se a moda pega”, fez demais por este cobiçado
torrão e até agora (não sabemos porquê) não lhe foi prestada a menor homenagem.
Ele merece. Prestemos-lhe a nossa sincera gratidão.
BILHETE:
Senhores Vereadores da Câmara Municipal de Santarém:
É dever de todos vós, votar uma Lei denominando
Professor José Agostinho, uma de nossas ruas ou travessas, ato esse que não
será unicamente uma homenagem, mas também mais uma dívida que Santarém vai
saldar com um artista que, com sua música maviosa, elevou bem alto o seu nome
cultural, na parte a que se refere à arte de Chopin.
Senhores Vereadores, apelo para o vosso sentimento
de civismo e amor à terra comum, em agradecimento àquele saudoso mestre, dando
à memória de seu “Zé Agostinho” (assim era tratado na intimidade) o tributo que
merece, pois ele deixou um documento que lhe dá credenciais para isso, amando
nossa terra mais do que muito santareno, como prova uma canção onde ele termina
cantando: “Benditas praias desta terra, meu corpo em vida, ou morte, será
teu...”.
Aqui fica, pois, meu apelo.
EDMIR SUSSUARANA.
NOTA: Publicado
no Jornal de Santarém de 07 de julho de 1951.
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