terça-feira, 27 de março de 2018

Momento Poético: Velas ao Sol Poente


Por Augusto Lopes

Passam as velas no horizonte
            Com deusa-panda na bujarrôna...
            Vão enfunadas, quase defronte,
Daquele sol que se desmorona.

Umas são brancas, outras azuis,
            Cortando o mar em arrebol...
            Vento Galerno, todas tafuis,
Singram as velas ao pôr do sol. 

Aos solavancos de ondas revoltas,
            Lá se vão elas por mar afora...
            Todas lampeiras, de escotas soltas,
À luz do sol que agoniza agora.

Sempre de tarde, à luz poente,
            Como gaivotas em debandada,
            Surgem as velas serenamente,
Singrando as águas ensanguentadas.

Singrai, singrai, ó velas de nautas,
            – Tarde cabocla, a luz agoniza,
            Levais no bojo, bons argonautas,
Um sol já morto, um beijo da brisa.

NOTA: Poesia publicada em 1932.

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