Quando, em 1882,
fizemos uma viagem pelo rio Trombetas, foi para nós uma agradável surpresa,
avistando a engraçada e nascente povoação do Uruátapera, fundada pela
diligência do padre José Nicolino.
A escolha do
lugar, quanto a beleza e posição geográfica, demonstra claramente a
inteligência de quem o escolheu.
Uruátapera está
colocada na margem esquerda do rio Trombetas, na parte em que este grande
tributário do Amazonas recebe as águas do Jamundá, pelo largo e profundo canal
do Sapucuá, que deságua na margem direita, mesmo fronteiro à povoação, tendo,
pouco abaixo, cerca de um quilômetro, o paraná-miry do Cachoery.
O assento da
povoação é sobre um terreno alto, de cerca de 20 metros sobre o nível da maior
cheia do rio; e estende-se plano para o centro, até encontrar a margem do lago
Yripity, formando um tabuleiro de cerca de 2 quilômetros de largura.
O lago Yripity
tem uma boca franca e navegável para pequenos barcos; esta fica ao sul do
povoado e fronteira à do Cachoery. O lago é muito piscoso e sadio, sendo
rodeado de vastas florestas virgens.
Nele já houve um
estaleiro pertencente a um velho italiano de nome Vicenti, no qual se
construíram lindos e sólidos navios de alto bordo, como a “Flor do Amazonas”, a
“Maria Elias” e outros.
O lago é
habitado e mui formoso, apesar do seu aspecto ainda selvático.
O lugar do
Uruátapera, onde se acha a freguesia fundada pelo padre José Nicolino, não
tinha um só habitante há 15 anos atrás; e, no entretanto, em 1882 já possuía 51
casas, sendo 31 cobertas de telhas, uma boa capela, construída pelos fiéis, sob
os auspícios do padre e mais de 5 casas de comércio.
A iniciativa
particular, dirigida por um homem superior e patriota, veio demonstrar a todas
as luzes o seu poder naquela localidade.
Vai-se criando,
a 50 quilômetros de Óbidos, uma grande vila que será, em futuro breve, o
empório das riquezas do vale do Trombetas e o entreposto do município de Faro.
O seu porto tem
capacidade para abrigar centenas de navios de todas as lotações; e o rio
Trombetas, daí para cima, alarga o seu majestoso leito, semeado de ilhas firmes
e desenrola o panorama mais esplêndido que se pode imaginar.
É um verdadeiro
centro das fazendas agrícolas do paraná do Cachoery e das fazendas de criação
do Sapucuá, ilha dos Picanços, Mariapixy e Piraruacá.
Muitos vapores
já frequentam; e está, pela sua colocação, principiando a servir de ponto de
recreio aos habitantes de Óbidos, que para ali se transportam em lanchas a
vapor.
Satisfeito o seu
primeiro desejo de fundar uma povoação e ter uma igreja sua, o padre José Nicolino
julgou oportuno verificar o que se tinha lido nos manuscritos traçados pelos
corajosos filhos da Companhia de Jesus que, em outros tempos, armados da fé e
da cruz, devassaram as florestas e as desertas savanas, à caça de almas para o
cristianismo e de braços para o trabalho útil.
(...)
Publicado no
jornal Gazeta de Alenquer de 23 de julho de 1890.
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